O REPLICADOR

Fevereiro 01 2010

Este texto é uma resposta ao comentário da "Katherine" no texto "O Verdadeiro Contrato Social".

 

Cara Katherine,

 

Como o seu comentário abordou várias questões interessantes, tentarei responder-lhe por pontos:

 

1-    Devo dizer-lhe que concordo com quase tudo o que escreveu. Grande parte do que disse está presente em qualquer livro de Sociobiologia ou, como mais recentemente é conhecida, de Psicologia Evolutiva. É inegável que nós somos produtos dos nossos genes e do meio ambiente, e que o meio ambiente exerce pressão evolutiva ao determinar os mais bem adaptados ao contexto (repercutindo-se na selecção natural). Estamos plenamente de acordo e nada do que escrevi no texto invalida estas premissas.

 

2-    Estamos também de acordo no que diz respeito às tendências. De facto, tendências não significam que qualquer individuo de um determinado grupo (seja ele étnico ou de género) tenha de corresponder à tendência. Porém, estava-se a comentar o falhanço “MÉDIO” dos rapazes no ensino e do sucesso “MÉDIO” das raparigas (como se sabe, há alguns bons alunos e algumas más alunas) e quando se desenvolvem medidas políticas baseadas em teorias educativas traça-se sempre uma média para os seres humanos. São essas medidas que são criticadas no texto (ou satirizadas, neste caso). Como é fácil de verificar, nunca escrevi em qualquer lado que qualquer mulher é mais X que do que qualquer homem por causa da tendência verificada nos seus respectivos grupos.

 

 

3-    As características que herdamos da evolução humana estão presentes nos dias de hoje. Tal como referiu,  a agressividade “testosteronada” dos pontapés e murros não está adaptada ao contexto urbano contemporâneo onde a agressividade é mais frutífera ao nível da psicologia social. Podemos dizer que as mulheres são igualmente agressivas, mas não de uma forma física, usam sim outros métodos de agressão que por serem mais indirectos adaptam-se melhor (em teoria) às exigências da sociedade actual. Mas mais uma vez, estamos sempre a falar de médias, não de indivíduos em concreto.

 

4-    Já na última parte estamos em desacordo. Penso que tal se deve ao facto de ter interpretado erroneamente a intenção das minhas palavras. Eu nunca advoguei a aceitação da indisciplina e da agressividade para efeitos de valorização pessoal e académica, muito pelo contrário. O que eu advogo é que cada escola deve ter a liberdade para escolher os critérios com que vai preparar os seus alunos para que seja possível lidar com determinadas “inadaptações” de forma flexível sem modelos de educação impostos de cima (segundo o modelo “one size fits all”). O barómetro de evolução social, mérito e sucesso será medido na sociedade em si e não no ministério da educação. Ademais, eu não advogo o reforçar das características inadaptadas dos rapazes, a educação é, apesar das suas limitações, um factor importante no desenvolvimento pessoal, mas oponho-me a palavras como “moldar” porque facilmente caem nas engenharias sociais à luz do comportamentalismo. Por outras palavras, se me perguntar se um rapaz deve ser repreendido quando parte uma janela numa escola, obviamente que a resposta é sim. Mas o bom senso trata disso, não precisamos de instruções superiores para tal.

 

5-    Por fim, tal como o João Rodrigo já referiu, eu nunca advoguei que deviam existir direitos diferentes devido à diferença de capacidades. Muito pelo contrário, bato-me constantemente pela maximização da ausência de discricionariedade legal. As leis que definem o Estado de Direito são humanas e não grupais. Contudo, isto não me impede de constatar evidências empíricas das tendências dos vários grupos. Da mesma forma, tal não me faz pedir para que se perdoe os homens ou se obrigue as mulheres a trabalharem nas lides domésticas. Cada indivíduo deve escolher a forma de vida que melhor entender, independentemente de escolher um estilo “desigualitário” ou politicamente incorrecto (como o que referiu). Num cenário extremo (e irreal), se todos os homens se recusassem a fazer trabalhos domésticos, algumas mulheres viveriam com eles na mesma e outras prefeririam ficar sozinhas. O que importa é que, na vida privada, cada indivíduo tome as suas decisões e não exerça coerção sobre o próximo. Por fim, não me parece que nos devamos preocupar em demasia em fazer com que os homens ganhem flexibilidade adaptativa. Os humanos chegaram até aos dias de hoje atravessando milénios precisamente porque a selecção natural foi trazendo essa mesma flexibilidade adaptativa (não consta que tenham existido pedagogos estatais com cursos de sociologia e psicologia a “flexibilizarem os indivíduos”). 

 

PS: A drive sexual é EM MÉDIA diferente entre os 2 sexos devido à estratégia evolutiva espécie. Nem é preciso ler livros como o “Selfish Gene” para saber isso, basta tentar perceber porque é que a mais velha profissão do mundo é essencialmente feminina.

 

publicado por Filipe Faria às 00:20

Janeiro 29 2010

Um artigo do jornal “Público” revela o facto de as mulheres terem em média mais sucesso académico do que os homens e de que se está a formar uma nova classe baixa constituída por rapazes que fracassaram na escola. Nada de novo. O que também não é novo são as explicações dadas por sociólogos e pedagogos que se baseiam, em larga medida, na famigerada teoria da tábua rasa que considera que temos todas as mesmas características e que as diferenças apresentadas são apenas resultados da educação e da cultura. Este excerto do artigo é elucidativo:

 

“Especialista em assuntos de Educação, o sociólogo francês Christian Baudelot defende que, antes de mais, aquilo que é pedido pela escola é a interiorização das suas regras, mas que estereótipos sociais ainda dominantes valorizam nos rapazes o desafio, a violência e o uso da força - um verdadeiro "arsenal antiescolar". As raparigas, pelo contrário, são socializadas na família em moldes que facilitam a adaptação às exigências escolares: mais responsabilidade, mais autonomia, mais trabalho. "Trata-se de um conjunto de competências que as torna menos permeáveis à indisciplina", observa Teresa Seabra. No ano passado, em Espanha, 80 por cento dos alunos com problemas disciplinares eram do sexo masculino.”

 

Desta forma, como acreditam que tudo se resolve pela educação, desenvolvem constantemente engenharias sociais para igualizarem o inigualável cometendo cada vez mais erros ao não permitirem que cada elemento seja livre para escolher o seu caminho segundo as suas características inatas e os seus instintos.

 

É muito claro que há diferenças genéticas entre rapazes e raparigas (eu pelo menos olho sempre para esses sinais distintivos nas fêmeas): os traços físicos, a força, a impulsividade, a drive sexual,  a agressividade que está ligada aos níveis de testosterona (superiores nos homens), etc etc. Contudo, os nossos amigos das pedagogias acham que tudo se deve à educação e à pressão social, como se os meninos e meninas não tivessem instintos próprios para reagirem ao contexto que as rodeia. Para estes educadores as pessoas são meros balões que voam para o lado que sopra o vento, ou seja, retiram da equação qualquer noção de livre arbítrio ou de responsabilidade pessoal.

 

 

 

 

Assim sendo, acreditando nestes pedagogos adeptos da teoria da tábua rasa, todas as tendências que separam os 2 sexos só se podem explicar por acordos sociais que os homens fizeram entre si e por acordos sociais que as mulheres fizeram igualmente para criar a tal “pressão social” e os tais “estereótipos”. Vamos esquecer os contratos sociais de Rousseau ou Hobbes ou Locke, este é “o verdadeiro contrato social” para estes pedagogos. Aqui ficam algumas das premissas acordadas:

 

  • Os homens acordaram entre si morrer em média mais cedo enquanto que as mulheres preferiram acordar morrer mais tarde. Os homens até acordaram terem taxas de suicídio bastante superiores às das mulheres (esse radicais contratuais).

 

  • Os homens acordaram terem (em média) mais força, maior drive sexual, mais comportamentos de risco e serem menos organizados do que as mulheres, elas acordaram o contrário porque queriam parecer melhor em vestidos.

 

  • Os homens concordaram em ser maus na escola porque os pais lhes diziam para serem viris e não para serem bons alunos (alguém acredita nisto?). Já as mulheres concordaram em ser boas alunas porque os pais lhes disseram para elas serem bem comportadas e boas estudantes (e não é que elas obedeceram).

 

  • Uma das premissas acordadas por unanimidade entre os homens é o facto de geralmente fazerem pouco trabalho doméstico (visitem a casa de um solteiro médio e provavelmente vão encontrar no frigorífico sandes azuis de bolor feitas em 1996). Por outro lado, as mulheres acordaram que o trabalho doméstico precisa de ser feito por uma questão de necessidade e mesmo quando não o apreciam particularmente tendem a fazê-lo com competência.

 

  • Eles acordaram em ter uma capacidade de movimentação espacial superior e elas acordaram ter uma inferior porque acharam que bastava terem melhores capacidades comunicativas (e seios) para dominarem os movimentos dos machos. 

 

No fundo estes pedagogos são contratualistas que pregam uma reformulação deste “verdadeiro contrato social” de forma a que homens e mulheres acordem as mesmas coisas no sentido de obterem uma massa igualitária. É isso que estão a tentar. Porém, como o ser humano não é uma tábua rasa preenchido pelas suas políticas educativas e como ainda estamos longe de conhecer com exactidão os fenótipos das milhões de combinações de genes humanos, seria bom que admitissem a sua ausência de conhecimento e dessem liberdade de escolha para cada um escolher o seu caminho escolar e profissional.

 

Em média, homens e mulheres têm tendências comportamentais diferentes que se manifestam desde bebés (quando a influência da educação é ínfima), mas todos terão capacidades que podem ser optimizadas por eles mesmos numa sociedade pluralista e descentralizada.

 

PS: Outros textos sobre o assunto : Educação em Portugal: A Crença na Tábua Rasa, Steven Pinker: Acerca da Tábua Rasa

 


Janeiro 09 2010

1- Sobre o estado de natureza hobbesiano

 

Segundo Friedrich Hayek, o estado de natureza de Thomas Hobbes é um mito; refere-se naturalmente ao estado cruel onde o Homem vive  num estado permanente de todos contra todos. O modelo individualista, ultracompetitivo e agressivo que Hobbes propôs para explicar as origens das sociedades nunca podia ter existido segundo o autor austríaco. Da mesma forma, Darwin defende que o Homem sempre foi social desde que nasceu, com laços competitivos mas também de entreajuda entre os membros geneticamente mais próximos, ou seja, da mesma tribo. Igualmente, o próprio Hayek caracterizou o homem selvagem de uma forma que poderá surpreender os que o vêem como um extremo defensor da cultura individualista:

 

“The savage is not solitary, and his instinct is collectivist”

F. Hayek

 

2- Evolução social

 

Ambos consideram que a selecção natural se faz ao nível do indivíduo e não do grupo, mas isto é essencialmente válido no campo da evolução biológica. No campo da evolução social (ou cultural) o processo é, em larga medida, Lamarckiano: as inovações que foram adquiridas durante o espaço de uma vida são transmitidas à comunidade de forma a produzirem uma sobrevivência  e reprodução mais eficazes. Ambos os autores consideram que a capacidade para imitar é provavelmente a característica mais importante para o desenvolvimento do conhecimento humano. Darwin chegou mesmo a aceitar a premissa de Alfred Wallace quando este diz que muito do trabalho inteligente do homem é feito por imitação e não através da Razão. Mais especificamente, a título de exemplo, quando um homem inventa uma arma eficaz para si mesmo, com o intuito de atacar ou defender, todos os outros elementos vão imitá-lo, não porque vão usar a Razão para racionalizar as consequências, mas sim por razões emulativas de equilíbrio de poder e sobrevivência.

 

3- Transmissão de cultura

 

A transmissão de cultura entre grupos foi descrita por Darwin da seguinte forma:

 

“We can see, that in the rudest state of society, the individuals who were the most sagacious, who invented and used the best weapons or traps, and who were best able to defend themselves, would rear the greatest number of offspring. The tribes, which included the largest number of men thus endowed, would increase in number and supplant other tribes. Numbers depend primarily on the means of subsistence, and this depends partly on the physical nature of the country, but in a much higher degree on the arts which are there practised. As a tribe increases and is victorious, it is often still further increased by the absorption of other tribes”

C. Darwin

 

 

Desta forma, ao contrário dos argumentos dos defensores da cultura imutável, a cultura e a evolução social dão-se de forma transcultural através da imitação das inovações que se impõem como mais eficazes para resolver problemas. Em paralelo, um determinado grupo que perceba que outro grupo está a dar-se bem com determinadas inovações políticas irá sentir-se tentado a adoptar essas mesmas políticas. A isto podemos chamar globalização cultural, que apenas oferece resistências quando os Estados centrais, ou outras organizações centralizadas, rejeitam essas mesmas inovações que provêm de outras localidades. O indivíduo facilmente adopta essas mesmas inovações que funcionam com outros indivíduos, mas nem sempre os Estados têm interesse em fazê-lo por razões que se prendem com a manutenção de poder.

 

4- Solidariedade social e Estado

 

Ao rejeitar o contrato social hobbesiano por considerar que o estado prévio ao contrato não define a natureza humana, Hayek relembra que a ideia de Darwin não é a simples vitória dos mais aptos através da dura competição, é sim uma mistura de cooperação e competição que permitiu o desenvolvimento humano até aos dias de hoje, sem que fosse o contrato social a definir as premissas fundamentais do comportamento humano. Não será por existir mais intervenção dirigista do Estado que vamos cooperar mais nem por haver menos intervenção de Estado que vamos competir mais, podemos é competir pior e cooperar pior. Naturalmente, ao perguntarmos qual a solução que mais beneficia o todo, a resposta é clara, não só em Hayek mas também em Darwin: a política da liberdade individual e da não intervenção estatal, pois a entreajuda e a solidariedade social não começaram com o Estado providência, nem sequer com o Estado, começaram sim com os primeiros humanos.

 


Dezembro 27 2009

 

 

Costuma-se dizer no âmbito das relações internacionais que os seres humanos só vão ter paz entre si quando encontrarem um inimigo externo a eles, como uma invasão de alienígenas. O que a saga cinematográfica “Alien” nos vem dizer é que nem isso nos uniria numa paz kantiana. 

 

A ideia patente nos quatro filmes “Alien” é a que apesar de existir uma ameaça alienígena, os humanos continuam a ter ideias diferentes em relação à forma de lidar com o problema e continuam a olhar para a situação com vista a trazer o máximo de proveito para si mesmo em detrimento do próximo. Em última instância, numa perspectiva utilitarista, se alguém considerar que manter um alienígena mortífero vivo traz mais dividendos do que manter humanos vivos ele/ela irá fazê-lo. A saga não é inquietante por causa da destruição em massa, do sangue ou dos milhares de assassinatos, é inquietante pela mensagem que deixa: independentemente do que possa acontecer, o amor à humanidade como um todo é algo que não existe.

 

Esta mensagem parece ter na sua base a explicação do sociobiólogo Edward Wilson para a nossa falta de coesão como colectivo alargado: ao contrário das formigas, que por serem estéreis precisam de trabalhar para a mãe com um forte sentido de espécie, o facto de os humanos terem autonomia reprodutiva faz com que tendam a colocar os seus interesses genéticos à frente dos de uma colectividade de que não dependem directamente. Desprovido de sexo, “Alien” é, em última instância,  um filme sobre reprodução.

 

Em “Alien: Resurrection” (Alien 4), ao descobrir que a dedicada e caridosa rapariga interpretada por Winona Ryder é afinal um robot, Ellen Ripley (Sigourney Weaver) profere a frase que resume a lógica subjacente à saga: “No human being is that humane”.

 

publicado por Filipe Faria às 01:06

Novembro 04 2009

It is widely known that not everyone holds the same concept of education. From my perspective, education is mainly a tool that allows people to take full advantage of their innate potential. With this in mind, it is important to assess the power of education; therefore, the following question becomes the focus of this reflection: can education transform a person into someone completely different? The answer is yes and no, but to understand why, we must investigate the topic of human nature.

 

Steven Pinker, the famous American evolutionary psychologist, presents human nature as a mix of nature and nurture. He criticizes the theory of the blank slate (based on nurture only), which presents humans as having no genetic predisposition. In the same way, he advocates that human behavior is composed of 50% of genes (nature) and 50% of social context (nurture). As a result, half of what we are is already predetermined; thus, we cannot change it unless we manipulate our genetics, which is not easy to do these days. So we are left with the other 50% of nurture that we can use to change people and in which education plays an important role. This brings us back to the question posed in the beginning: can education transform a person into someone completely different? If we consider that humans are blank slates, then the answer is yes, a person can be fully transformed by education; on the other hand, if we consider the full picture by taking into account both nature and nurture, then the answer is no, education can only partially change a person and the innate part of humans cannot be changed by those means. As I see it, education is needed to provide opportunities for all, not to provide equal — or even similar — results, but to allow people to get the best out of themselves. Consequently, I see education as an opportunity and not as an end.

 

Higher education is as important as any other type of education; still, it should not be seen as the ultimate goal of every human being. Moreover, it is safe to say that not everyone likes to deal with intellectuality. Some people prefer to take short professional courses and they should not be regarded as inferior in any way. It is quite clear, society needs all sorts of activities to fill the needs of the market. In a society in which most people choose to get higher education, the plumber will earn more money ­— and be more useful — than a doctor or a lawyer. In the end, the law of supply and demand is always the one that decides what is more valuable, regardless of what we may choose. In the end, maybe higher education is a path that should not be considered as higher, but just as another way of life.

 

 

 


Agosto 28 2009

Quanto mais leio investigações sobre inteligência mais me convenço que nada poderá deixar de ser politizado: apesar de existirem amplas evidências de que a inteligência não é apenas inata mas também largamente hereditária, vozes da esquerda continuam a recorrer à teoria da tábua rasa para alegarem que a inteligência não existe e que o homem é unicamente um produto do seu contexto cultural. 

 

Está amplamente documentado que  a inteligência é uma estável propriedade de um indivíduo: está ligada a identificadas propriedades do cérebro como o seu tamanho, a quantidade de matéria cinzenta nos lobos frontais, a velocidade da condução neural e o metabolismo da glucose cerebral. Até Noam Chomsky, insuspeito de não ser esquerdista, diz o óbvio:

 

“It is, incidentally, surprising to me that so many commentators should find it disturbing that IQ might be heritable, perhaps largely so. Would it also be disturbing to discover that relative height or musical talent or rank in running the one-hundred-yard dash is in part genetically determined?”*

 

Curiosamente, Chomsky foi coerente onde muitos dos seus colegas esquerdistas não foram: muitas das vozes da esquerda que alegam que a inteligência não existe não se coibiram de passar pelo menos 8 anos da sua vida a gritar todos os dias ao mundo que George W. Bush era chocantemente burro.

 

* Chomsky, 1973, pp.362-363

 

 

 

publicado por Filipe Faria às 00:17

Agosto 26 2009

“Behavioral Science is not for Sissies”

Steven Pinker

 

Estamos perante constantes desenvolvimentos nas áreas da Psicologia, da Neurociência ou da Genética Comportamental. Nos dias de hoje, quem trabalha nas áreas da ciências comportamentais não pode esperar uma vida fácil: explorar cientificamente o comportamento do ser humano é uma actividade que irá sempre sofrer resistências por parte do animal político que é o homem. Desta forma, quem apresenta novos dados na área do comportamento humano está sujeito a ser atacado de forma inexorável pelos que zelam pelo “status quo” actual.

 

Vivemos repletos de crenças pois encontramos nelas bases de sustentação para o nosso dia-a-dia. Consequentemente, trememos quando os dados empíricos as abanam. Tal como Steven Pinker advoga no seu livro clássico “The Blank Slate”, as 3 grandes doutrinas que dominam a nossa vida em sociedade são: a doutrina da “Tábua Rasa”, a do “Bom Selvagem” e a do “Ghost in the Machine” (o fantasma na máquina). Juntas, elas formam a santíssima trindade contemporânea:

 

1- A doutrina da “Tábua Rasa” é a que postula que nascemos todos iguais e sem capacidades inatas (inteligência, comportamento, temperamento, etc). É assim a educação e a cultura que nos moldam por completo, definindo por inteiro aquilo em que nos tornamos. É uma doutrina especialmente acarinhada no modelo de ensino das ciências sociais onde o ênfase dado ao factor “cultura” é totalitário em relação a quaisquer outros factores.

 

2- A doutrina do “Bom Selvagem” é postulada por Rousseau: defende que o homem nasce bom e que apenas se torna mau devido à sociedade e às desigualdades sociais.

 

3- Por último, a doutrina do “Ghost in the Machine” revela a separação “descartesiana” do corpo e da mente, dando à mente um estatuto imaterial a que normalmente chamamos de “alma”. Esta última doutrina acredita que a alma vive no corpo e que depois do corpo biológico morrer ela continuará a existir mesmo sem a presença deste. É assim uma doutrina de índole religiosa.

 

À medida que novas descobertas nestas áreas cientificas vão destruindo estes modelos sociais vigentes as vozes de oposição fazem-se sentir.

 

Quem contesta ferozmente a destruição da “Tábua Rasa” é a esquerda política: se a ideia, generalizada, de que somos tábuas rasas for destruída por novas descobertas científicas que enfatizam o papel estruturante dos genes nas capacidades comportamentais dos seres humanos, então, por certo, a legitimidade para a esquerda alegar que basta dar condições às pessoas para que elas cheguem todas aos mesmos resultados cai imediatamente pela base. As pessoas, independentemente das condições que tenham, pelo simples facto de não terem todas as mesmas capacidades, nunca chegarão aos mesmos sucessos. Da mesma forma, a ideia de que os que têm capacidades favoráveis ao contexto precisam de entregar os rendimentos provenientes das suas capacidades para os que não as têm pode começar perigosamente a parecer uma forma de escravidão. No fundo, o que o fim do mito da “Tábua Rasa” faz é colocar um fim à lógica esquerdista de construtivismo social como modelo de desenvolvimento, porque uma parte considerável do ser humano é inata e não social. A mensagem que a esquerda abomina é a seguinte: “mexam à vontade através do construtivismo social mas saibam que não podem mudar o fundamental da natureza humana que é fortemente influenciado pelos genes”. Por outras palavras, adaptando a este caso as famosas palavras de Giuseppe Tomasi di Lampedusa: a esquerda quer mudar tudo para que tudo fique igual. Com a destruição do mito da tábua rasa por parte das ciências comportamentais, grande parte do discurso esquerdista fica fragilizado.

 

A esquerda tem igualmente na doutrina do “Bom Selvagem” uma das principais crenças que suporta a sua mundividência política. O homem nasce bom mas as desigualdades sociais e a competição em sociedade tornam-no mau. Com base nesta ideia defendem que a criminalidade é explicada com a pobreza (apesar de existirem muitos pobres honestos) e que o crime se combate com subsídios de reinserção em massa, assim como ajudas infindáveis aos pobres, e não com a coerção das forças policiais. Cada vez mais, os estudos empíricos confirmam que a evolução darwinista não se faz através da bondade do homem mas sim, como é possível aferir no mundo dos animais, de formas por vezes cruéis. Mas está o homem em linha com animais? Segundo inúmeros dados revelados por Steven Pinker em “The Blank Slate” a resposta é sim. É por esta via revelado que as tribos indígenas da América do Sul e Nova Guiné, que vivem em condições pré-civilizadas, mostram uma taxa de mortes de homens às mãos de outros infinitamente superior à da civilização ocidental do século XX e XXI (com as duas grandes guerras incluídas). Ao contrário da ideia idílica de que essas tribos vivem alegremente em paz com a natureza, o que é divulgado por estes estudos são práticas que vão desde o canibalismo a lutas até à morte pelo domínio das fêmeas. Idealizou-se os povos indígenas para condenar a expropriação das terras levada a cabo pelos colonos ocidentais, mas fazer deles os representantes do “Bom Selvagem” é, em si mesmo, um erro antropológico. Contudo,  a evolução não se faz nem exclusivamente de bondade nem exclusivamente de crueldade. Resumidamente, processa-se através de uma mistura de crueldade e altruísmo que, em última instância, são reveladores do interesse egoísta que move o indivíduo.

 

Por fim, as descobertas no campo da neurociência mostram evidências com efeitos dramáticos para a doutrina do “Ghost in the Machine”: o comportamento é controlado por circuitos no cérebro que seguem as leis da química. Concomitantemente, se alterações físicas no cérebro alteram o comportamento de uma pessoa, a noção de “alma” fica sem validade argumentativa. Desta vez, sem surpresa, os ataques não vêm da esquerda, mas sim da direita religiosa. A crença na bíblia por oposição ao evolucionismo tem gerado fervorosos debates nos Estados Unidos entre criacionistas e evolucionistas. Na Europa, devido a uma população comparativamente laicizada, este debate é pouco expressivo. Nos EUA não é anormal ouvir a direita religiosa explicar fenómenos como o massacre da escola secundária de Columbine (onde 2 adolescentes armados matam colegas indiscriminadamente) com a “educação evolucionista que ensina que os humanos são apenas macacos glorificados” tal como disse o republicano Tom Delay. Contudo, há também elementos da direita que apesar de concordarem com o evolucionismo acham que é bom que o povo mantenha a sua crença na religião para que o mundo deles não desabe. “Para quê roubar-lhes o sonho?” parecem dizer. Tal como o escritor de ciência Ronald Bailey observou: muitos conservadores não só concordam com Karl Marx quando ele escreveu que a religião é o ópio do povo como ainda acrescentam “graças a deus que assim é”.

 

Nesta luta observa-se um fenómeno curioso. Por vezes a esquerda e a direita conservadora religiosa aliam-se nesta luta anti-ciência comportamental. Muitos criacionistas usam citações de esquerdistas fervorosos (que abominam a religião) quando se trata de lutar contra as novas descobertas científicas. Quando há um inimigo comum, eles tornam-se amigos. Em Portugal, fiquei a saber, através de uma conferência sobre o Darwinismo na FCSH, que existe (pelo menos na altura existia) uma directiva do ministério da educação que advoga que o darwinismo não deve ser aprofundado no ensino público. Torna-se claro, esta aliança política de inimigo comum faz-se sentir também do ponto de vista institucional. 

 

Tal como os liberais são atacados tanto pelos socialistas como pelos conservadores religiosos, a ciência comportamental é também alvo dessas duas facções que temem que as novas descobertas coloquem em causa a sua legitimidade ideológica. Podem fazê-lo durante algum tempo, mas será impossível fazê-lo para todo o sempre. Chegaremos a um dia em que as evidências da ciência terão de ser equacionadas pelo pensamento político e aí novos argumentos terão de ser esgrimidos. O que fazer com este novo conhecimento e quais as suas implicações sociais são questões que irão definir o próximo passo da “coisa” política...

 

 

 

publicado por Filipe Faria às 17:42

Agosto 06 2009

 

 

publicado por Filipe Faria às 03:19

Agosto 04 2009

Ganhar um ordenado de 3500 euros líquidos é bom ou não? A resposta não é mensurável até se comparar esse ordenado com os dos outros. Os conceitos de bom e mau são intrinsecamente comparativos, sou seja, dependem da comparação para serem interiorizados em cada indivíduo.

Uma equipa de investigadores alemães da Universidade de Bona mostrou que a forma como cada um reage perante uma recompensa não depende de um valor absoluto,  mas depende, em larga medida, da comparação imediata que se faz com os colegas e, num contexto mais alargado, com todos os outros.

A equipa liderada por Armin Falk encetou uma experiência com voluntários europeus e do sexo masculino de forma a aferir os seus comportamentos perante situações de inveja ou injustiça. Os voluntários foram dispostos dois a dois, em postos de trabalho contíguos, equipados de tomógrafos de ressonância magnética ligados a várias partes do cérebro. Os investigadores pediam aos voluntários para desempenharem uma determinada tarefa nos computadores. Consoante o desempenho na tarefa, os voluntários iriam receber um determinado valor monetário. Os que não conseguiam quaisquer resultados não eram recompensados e, como tal, revelavam uma falta de actividade na zona do cérebro que reage a recompensas e reconhecimento. Porém, entre os que tinham bons desempenhos e que eram recompensados, a reacção cerebral não era equivalente.

A razão para esse efeito prende-se com o facto de ter sido dito aos vencedores que o valor monetário não era igual para todos, apesar de o desempenho deles ter apresentado níveis de sucesso semelhantes. O resultado tomográfico foi uma menor circulação sanguínea no voluntário que tinha recebido menos dinheiro. Desta forma, concluiu-se que a recompensa individual que estimula o centro cerebral respectivo revela que o prazer não está apenas dependente do sucesso pessoal mas também (ou principalmente) do sucesso dos outros. *

Em tempos contemporâneos, tentamos ignorar os efeitos que a inveja tem na forma como organizamos a vida em sociedade. O argumento mainstream socialista que tanto molda o nosso quotidiano tem, como Nietszche dizia, a sua raiz na inveja. Há muito que se ultrapassou o argumento da igualdade de oportunidades: hoje em dia a sedução é feita através da igualdade de resultados. A igualdade de resultados é apresentada como sinónimo de justiça, quando na realidade não o é, apenas satisfaz o ímpeto invejoso do ser humano que não tolera o sucesso alheio independentemente do mérito que lhe assista. Este rumo destrói o conceito de justiça aristotélico que advoga que o conceito de justiça é dar 2 e receber 4 e dar 4 e receber 8, e não dar 2 e receber 4 e dar 3 e receber 8.

O próprio primeiro ministro socialista José Sócrates proferiu há uns tempos que estava orgulhoso de ter diminuído as diferenças entre ricos e pobres. Ora, não há nada de extraordinário em fazer isso. Para tornar todos iguais ao nível dos rendimentos basta roubar aos mais ricos e obtemos uma sociedade onde a diferença entre ricos e pobres é menor, sem sequer necessitar de criar riqueza efectiva. O verdadeiro desafio de José Sócrates seria conseguir esse feito criando riqueza em abundância para todos os sectores da sociedade independentemente da sua classe social. Em plena campanha eleitoral, o Partido Socialista já anunciou o seu ataque fiscal aos “ricos”, quando na realidade os “ricos” incluem muitos da classe média que progrediram profissionalmente através do seu trabalho diário.

Abaixo está um gráfico com a distribuição da car
ga de IRS paga em função dos agregados familiares no ano fiscal de 2006. A sua leitura é simples, em Portugal, 15% da população paga 85% de todo o IRS. O discurso que se aproveita da inveja tem efeitos práticos bem ostensivos.




Pouco antes de deixar o cargo de primeiro ministro, Margaret Thatcher  proferiu um discurso na Casa do Comuns que evidenciou, de forma paradigmática, a exploração da inveja subjacente ao discurso socialista clássico e que vem ao encontro das conclusões tiradas pela equipa de investigadores alemães supramencionada: Margaret foi criticada porque nos anos de mandato dela, apesar de visíveis progressos económicos, a diferença entre os ricos e os pobres era maior do que era quando ela chegou ao governo. No seu estilo directo, ela evidenciou que todas as classes sociais, sem excepção, estavam melhores hoje do que quando ela chegou ao poder. Toda a gente tinha mais rendimentos, mais capacidade de compra, melhor qualidade de vida. No entanto, o que preocupava a oposição era o facto de a diferença entre ricos e pobres ter aumentado. Em conclusão, não interessava muito se toda a gente estava melhor, nem se as condições de vida no presente eram infinitamente melhores. O problema é que uns tinham mais do que outros e a inveja é um sentimento que não se contém facilmente; como resultado, este sentimento será sempre explorado pelo discurso socialista.

Podemos ligar os portugueses a um tomógrafo. Consequentemente, damos-lhes  3500 euros líquidos por mês e eles irão ficar contentes. Não duvido. Mas quando lhes dissermos que para que isso aconteça alguns vão ter de ganhar mais do que esse valor, a actividade na zona cerebral que indica satisfação irá diminuir de imediato, e, prontamente irá surgir um socialista José Sócrates, um socialista Teixeira dos Santos ou um socialista Manuel Alegre para explorar e capitalizar para fins pessoais esse nível de insatisfação. Voltamos sempre ao mesmo. É a lei do eterno retorno.

 

* Carvalho, José, Neuro Economia: Ensaio Sobre a Sociobiologia do Comportamento, Edições Sílabo, Lisboa, 2009

publicado por Filipe Faria às 02:08

Julho 28 2009

No seu livro "The Blank Slate", Steven Pinker, psicólogo evolutivo na universidade de Harvard relembra que a principal diferença entre conservadores e liberais (Direita e Esquerda) reside na concepção antagónica da natureza humana. Enquanto a Direita apresenta uma visão "trágica", a esquerda opõe uma visão utópica e toda a sensibilidade política irá decorrer desta visão do homem:

 

"If you learn that someone is in favor of a strong military, for example, it is a good bet that the person is also in favor of judicial restraint rather than judicial activism. If someone believes in the importance of religion, chances are she will be tough on crime and in favour of lower taxes. Proponents of a laisser-faire economic policy tend to value patriotism and the family, and they are more likely to be old than young, pragmatic than idealistic, censorious than permissive, meritocratic than egalitarian, gradualist than revolutionary, and in a business rather than a university or government agency.

The opposing positions cluster just as reliably: if someone is sympathetic to rehabilitating offenders, or to a tolerance to homosexuality, chances are good that he will also be a pacifist, an environmentalist, an activist, an egalitarian, a secularist, and a professor or a student.

 

Why on earth should people's beliefs about sex predict their beliefs about the size of the military?"

 

Assim, a teoria da natureza humana de cada individuo influência a sua opinião acerca das mais variadas questões politicas: a visão trágica não depositará grandes esperanças em relação as virtudes do homem e a sua perfectibilidade, e irá por consequente preferir medidas pragmáticas. Por seu lado, a visão utópica acredita na completa plasticidade do cérebro humano, e no mito do bom selvagem de Rousseau. Logo as politicas de esquerda tenderão a assumir uma dimensão ideológica, que entende-se capaz de melhorar a sociedade através de iniciativas impostas de cima.

 

 

Pinker conclui o capitulo dizendo que na sua opinião, os avanços da psicologia evolutiva e da genética comportamental nas ultimas décadas mitigaram as pretensões da esquerda ao revelar uma natureza humana mais próxima da corrente de Hobbes que de Rousseau. Como se fosse uma evidência, acaba dizendo: "Every Student of political science is taught that political ideologies are based on theories of human nature. Why must they be based on theories that are three hundred years out of date?"

 

Eu sei que no meu curso, o tema da natureza humana foi tratado mais do que superficialmente. Discutiu-se modelos de sociedade sem meter em causa o comportamento humano. Discutiu-se a gestão de alternativas sem estudar a natureza do "animal político".

publicado por Alexandre Oliveira às 16:00

Julho 17 2009

O mundo francófono está sempre a oferecer-nos estas pérolas. A franco-suíça Corinne Maier escreveu um livro chamado “No Kid: quarante raisons de ne pas avoir d’enfant” (Filhos não: 40 razões para não ter filhos). Corinne, uma economista que agora se dedica à psicanálise e à escrita, apresenta inúmeros argumentos para provar que ter filhos não compensa. Numa entrevista à revista Sábado (13.09.2007), a autora em causa proferiu: “ Antes, a religião ajudava as pessoas a encarar o futuro e agora temos as crianças; é uma forma de investimento. Na nossa cultura as crianças significam consumo. As crianças estão inscritas no catálogo de compras da sociedade de consumo (um estudo espanhol calculou que se gasta entre 100 mil e 300 mil euros por filhos). Ter um filho num país desenvolvido é um crime. As crianças são os maiores aliados do capitalismo, fazem-nos consumir, comprar, são delatores natos da vida privada dos pais e destruidores do corpo da mulher”.

Os ataques ao capitalismo já só chocam um recém-nascido (talvez por isso, na óptica da senhora, devam ser evitados); contudo, a sugestão de que, em última instância, devemos deixar de ter filhos já não é um rumo que leve ao socialismo ou à igualdade entre homem e mulher, leva acima de tudo ao nada, ao vácuo, à não existência. Acredito que faça sentido, a não existência é tendencialmente igualitária; não obstante, não conheço provas de que o seja em absoluto.

Será seguro dizer que ninguém conseguiu ainda apontar um objectivo mais lógico e tangível para o rumo humano do que a reprodução do ADN, o passar de genes às gerações vindouras. Com todos os objectivos que possamos traçar para a nossa vida, esse é certamente o que servirá de base comum a todos nós e aquele que nos fez existir em primeiro lugar. Shopenhauer escreveu que nunca nos devemos surpreender pelo facto de existirem casamentos entre 2 pessoas que nunca teriam sido amigas, porque o desejo de procriação (patente no desejo sexual) supera até as maiores barreiras impostas por 2 inimigos. Duas pessoas que, sem o factor sexual, seriam desprezíveis uma para a outra culminam numa relação intensa onde a paixão os leva a fechar os olhos aos factores negativos. Ao longo da história percebemos que muitos homens poderosos, de uma racionalidade quase perfeita na sua vida profissional, tornam-se enganáveis e ingénuos ao casarem com mulheres que eles racionalmente desdenhariam, trazendo desconforto desnecessário para a sua vida.

A vontade de procriação em detrimento de uma suposta felicidade tangível está documentada nos depoimentos de vários casais que revelam que o momento “papel higiénico”  (momento em que o acto sexual termina) traz consigo uma sensação de vazio e de ausência de propósito, onde estes têm liberdade hormonal para pensar na razão porque estão com um parceiro que, em muitos casos, nem é uma pessoa que consideram assim tão “interessante”.

O desejo Corinne Maier não é, apesar de tudo, completamente ridículo: com a proliferação dos contraceptivos, juntamente com a emancipação financeira da mulher e com a consciência de que um filho é um fardo profissional, começa-se a sentir o efeito que Richard Dawkins postulou no seu livro “The Selfish Gene”: os nossos organismos podem-se rebelar contra os interesses dos genes; neste caso, levando à diminuição progressiva de filhos até se chegar ao intento final da Corinne. 

Em estudos recentes sobre a felicidade foram revelados resultados que mostram que as pessoas não são mais felizes porque têm filhos; muito pelo contrário, têm mais dificuldades objectivas e sofrem mais no dia a dia. Porém, quando lhes é perguntado se são mais felizes porque têm um filho elas tendem a responder que sim. Desta forma, o objectivo em si é valorizado em relação à vivência propriamente dita. Não é relevante sabermos se somos mais felizes ou não pelo facto de termos filhos, ter um objectivo a atingir supera as dificuldades práticas, sabendo-se que não existe nada mais motivador para a vida do que a própria motivação.

No mundo ocidental, a mulher tem, talvez como nunca, o papel de comando no rumo que a humanidade está a traçar. Ela pode viver para a carreira, pode procurar experiências sexuais sem ter necessariamente filhos, pode abdicar de partilhar a sua vida com um homem, pode inclusivamente ter filhos recorrendo a bancos de esperma e até pode entregar o filho a outros para que estes cuidem dele. Por sua vez, em termos de estratégia evolutiva, o papel do homem vai-se reduzindo: trabalhando para o PIB per capita mas já sem a influência directa, que teve em outras épocas, nas escolhas da mulher.

Num cenário hipotético onde o homem seria completamente inutilizado, a evolução poderia ditar o seu desaparecimento, afinal de contas, consta que há espécies que já tiveram 2 sexos e que ficaram só com um porque um deles tornou-se obsoleto para a estratégia evolutiva. Palpita-me que, mais do que a ausência de filhos, a Corinne Maier veria com melhores olhos esta última hipótese. Se não ela, pelo menos muitas como ela veriam...

 

 

 


 

publicado por Filipe Faria às 18:37

Julho 14 2009

Estudos baseados em milhões de mortes ocorridas em populações homogéneas revelam que as pessoas mais baixas, com corpos mais pequenos, têm taxas de mortalidade inferiores e menos doenças relacionadas com dietas, especialmente depois da meia idade. As pessoas mais baixas apresentam assim uma longevidade maior do que as pessoas mais altas.

Este fenómeno é verificado também nos animais: os animais mais pequenos tendem a viver mais tempo do que os maiores da mesma espécie. Esta tendência (correlação) pode igualmente ser observada nos homens e nas mulheres, sendo os homens, em média 8% mais altos do que as mulheres e, adicionalmente,  revelam uma esperança de vida 7.9% mais baixa do que a das mulheres.

Os autores destes estudos alegam que, com o desenvolvimento da engenharia social no campo da genética, irá ser possível para os pais aumentarem as alturas das suas crianças no futuro mais próximo. Contudo, alertam também para as implicações acima descritas.

Os paradigmas da selecção natural estão naturalmente a mudar. Em sociedades onde as elites são de índole cognitivo, a inteligência é a característica a seleccionar pelas mulheres. Ser alto, forte e gladiador vai perdendo o seu interesse numa sociedade onde o poder é de carácter  intelectual.

O mais provável é que daqui a uns tempos as pessoas estejam a perguntar aos geneticistas se é possível tornar o filho delas mais inteligente, em vez de lhes perguntarem se é possível tornar o seu filho mais alto e mais forte.

 

publicado por Filipe Faria às 00:35

Junho 26 2009

 

 

publicado por Filipe Faria às 17:01

Junho 21 2009

Tenho a salientar um ponto deste texto da Psychology Today acerca de algumas investigações na área da psicologia evolutiva:

A beleza feminina como elevador social e o poder (status) masculino como sinónimo de sucesso reprodutivo. As pessoas bonitas costumam ter mais filhas do que filhos e as pessoas mais pobres tendem a ter mais filhas, pois os homens ricos, ao contrário das mulheres, casam-se com mulheres pobres (desde que atraentes).

"One of the most celebrated principles in evolutionary biology, the Trivers-Willard hypothesis, states that wealthy parents of high status have more sons, while poor parents of low status have more daughters. This is because children generally inherit the wealth and social status of their parents.

This hypothesis has been documented around the globe. American presidents, vice presidents, and cabinet secretaries have more sons than daughters. Poor Mukogodo herders in East Africa have more daughters than sons. Church parish records from the 17th and 18th centuries show that wealthy landowners in Leezen, Germany, had more sons than daughters, while farm laborers and tradesmen without property had more daughters than sons.

The generalized Trivers-Willard hypothesis goes beyond a family's wealth and status: If parents have any traits that they can pass on to their children and that are better for sons than for daughters, then they will have more boys. Conversely, if parents have any traits that they can pass on to their children and that are better for daughters, they will have more girls.

Physical attractiveness, while a universally positive quality, contributes even more to women's reproductive success than to men's. The generalized hypothesis would therefore predict that physically attractive parents should have more daughters than sons. Once again, this is the case. Americans who are rated "very attractive" have a 56 percent chance of having a daughter for their first child, compared with 48 percent for everyone else."

O resto do texto aborda mais 9 questões como o porquê de os casais que têm filhos homens se divorciarem menos ou o porquê de os bombistas suicidas serem quase sempre muçulmanos.
Vale a pena ler e, naturalmente, questionar.

 

publicado por Filipe Faria às 00:20

Junho 14 2009

 

 

publicado por Filipe Faria às 01:23

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