O REPLICADOR

Novembro 21 2009

Ontem contei a uns amigos a história de como o Bill Gates perderia dinheiro se se baixasse para apanhar uma nota de 100$ (já que ele ganha 150 ao segundo). A resposta que tive não foi a esperada (porque eu ainda sou inocente), em vez de um sorriso cordial ou ar incrédulo escutei surpreso um grande "o dinheiro está muito mal distribuído". Entretanto como a análise disto é equivalente à d"O Cristiano Ronaldo ganha demasiado dinheiro e mal sabe ler e escrever", vou (novamente) aderessar os dois problemas em conjunto.


Fora possíveis métodos menos aceitáveis (como comprar constantemente a concorrência), o Bill Gates alguma vez foi a vossa casa levar o dinheiro que têm no cofre? Não? E o Ronaldo? E da mesma forma que não pagaríamos para ver o Gates a dar uns toques na bola, ninguém o faria para ver o Ronaldo a cantar a tabuada ou o contrataria para escrever cartas, fazer actas ou o relatório de contas e o IRS. Mas a maior parte das pessoas é obcecadíssima com o seu Microsoft Windows (algumas ao ponto de nem saberem que um computador pode correr sem ele, com sistemas operativos da concorrência, e há muitos) e por pior que digam do metrosexual alfa do Real Madrid, deleitam-se com as suas fintas no relvado. Todos pagam para isso e depois o dinheiro está mal distribuido? As únicas três linhas de raciocínio possíveis a partir daqui seriam:


-Queremos parte do dinheiro de volta, o que se traduz num preço do windows mais baixo e bilhetes dos jogos mais baratos;

-É indecente alguém ganhar tanto dinheiro ou seja a partir de X valor o que eles ganham deve ser devolvido à sociedade;

-Só não gostamos de ter menos do que eles.


A primeira ideia até é bonita, eu também gostava de um windows mais barato. Mas tenho boa solução, há produtos da concorrência que são mais baratos ou até de graça e com as mesmas funcionalidades! Não escolhemos também as torradeiras dentro da sua relação qualidade-preço? Façam o mesmo com os sistemas operativos! A Microsoft rapidamente entenderia e os preços cairiam a pique! É muito simples, se concordámos pagar um montante então devemos aceitar esse facto, independentemente de ser esse o valor do produto. Temos sempre a alternativa de não comprar. Ou de não ir aos jogos do Real Madrid.

A segunda ideia é na sua vertente mais extremista absolutamente absurda e de uma forma mais amena ridícula da mesma forma. Se pusermos um limite no que as pessoas podem ganhar estamos a ditar que qualquer trabalho a mais que façam é escravatura ou no mínimo inútil para eles. E eles teriam todo o gosto em deixar de o fazer. O Ronaldo só fazia bons jogos em dias alternados e o vosso adorado windows não faria metade do que precisam. Se nos referirmos a uma taxa mais pesada a partir de certo valor temos outros problemas. Em primeiro lugar estamos a apelar ao trabalho forçado, ou seja, imaginemos que é cobrado ao Ronaldo 50% do seu ordenado por ele ganhar o que ganha. 50% do tempo ele está a trabalhar para os outros sem compensação monetária ou outra. E o Bill Gates? Bem, o Bill faz algo muito simples, já que lhe cobram 50% dos seus lucros ele pode sempre aumentar o preço do Windows. E nós, recebendo parte do dinheiro que lhe custou a fazer teremos mais para o comprar mais caro. E voltaremos a ficar muito chateados por pagar muito pelo sistema operativo! A diferença é que houve um ciclo inútil no processo.

A última hipótese de raciocínio não cabe na cabeça de ninguém porque somos todos santos altruístas.


Eu tenho o hábito de comer no macdonalds uma vez por semana. Um dia fui tratado de forma muito insultuosa num dos restaurantes. Nunca mais lá voltei, mesmo sendo o mais perto de minha casa. Estúpido? Possivelmente, mais importante não lhes fará grande diferença, sou uma gota no oceano dos seus clientes. Mas é a minha forma de demonstrar o desagrado pelo seu produto, já que o atendimento é parte integrante deste. E se mais pessoas fizerem o mesmo, talvez aquele macdonalds entenda a ideia e arranje empregados que sabem contar dinheiro! Se não me seguirem, não fará diferença, demoro mais 2 minutos para comer os meus hamburgers e não me importo.


Nós, a grande massa consumidora dos grandes empresários, sejam eles magnatas da informática como o Steve Jobs ou artistas talentosos como os System of a Down, fartamo-nos de nos lamentar sobre como o dinheiro está mal distribuido por aquelas almas que por obra e graça divina lhes cai o dinheiro no colo. E a verdade é que é tão fácil alterar isso sem ter que pedinchar ao estado para os assaltar: Basta não comprar a porcaria que eles vendem.


Junho 01 2009

 Hoje, de forma muito simplificada e redutora, vamos levantar a hipótese que a vida em sociedade é como o futebol: o objectivo de cada individuo é ganhar, no entanto ninguém, por melhor que seja, consegue fazê-lo sem os seus parceiros de equipa, seja para guardar a baliza, defender ou marcar golos. Um aristocrata, por mais rico e poderoso que seja, está sempre ligado por jogos de interdependência aos outros elementos da sociedade: precisa de comer, de utilizar as estradas que não construiu, pode vir a precisar de serviço de emergência médica... Agora vamos imaginar que o futebol, como o conhecemos hoje, representa o paradigma de uma sociedade liberal: há interdependência entre jogadores, mas uns são mais talentosos que outros e trabalham mais, logo marcam mais golos ou destacam-se mais na sua tarefa, que seja guardar a baliza ou a conter os jogadores adversários. Vamos agora tentar imaginar o que seria um mundo do futebol socialista. Numa reunião na sede da FIFA, o presidente convoca vários jogadores da elite e declara: “Senhor Messi, Senhor Ronaldo, Senhor Ibraimovic, vocês de facto são muito bons, mas têm de perceber que queremos manter equipas coesas e igualdade entre os jogadores: a partir de agora só poderão marcar no máximo um golo por jogo, e vamos colocar pesos nos seus tornozelos para os outros defesas vos poderem apanhar mais facilmente. O que é que ia seguir-se? Provavelmente grandes séries de empates a zero, onde se instala o status-quo, mas onde ninguém ganha... Acaba o espectáculo, os sonhos, a adrenalina, os riscos de uma táctica ousada a dar frutos, acaba tudo. O campeonato perde o interesse. Deve deixar-se os jogadores jogar o seu melhor e recompensar os vencedores. O árbitro deve ter o papel mínimo, proteger os jogadores de agressões físicas punindo os que não compram as regras. O resto deve ser entregue à “mão invisível” (ou o pé invisível neste caso).

 

publicado por Alexandre Oliveira às 22:00

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