O REPLICADOR

Maio 11 2011

Começo o meu primeiro post no Replicador com um tema extremamente interessante e de elevada importância: semáforos. Não? Pois deveria ser, uma vez que é uma alegoria perfeita entre o Estado Intervencionista/Regulador e a Liberdade do Indivíduo.


Vejamos o seguinte exemplo: imagine-se numa fila interminável de carros parados à espera que o semáforo emita a bendita luz verde. Passados 300 metros depara-se outra vez com o seu já velho conhecido (sim adivinhou!) semáforo! And so on, num pára-arranca de meter nervos a um monge budista. Independentemente das razões que o(a) levam a submeter-se a tal suplício todos os dias (sim porque é impossível não os encontrar – a não ser que viva em Miranda do Douro) todos sentem lá bem dentro de si uma certa aversão aos senhores semáforos. Quem é que já não se sentiu agraciado (a) pelos céus quando apanha tudo verde chegando assim mais rápido ao seu destino? No entanto há que ver para além da enfadonha espera nos ‘traffic jams’. Toda a gente sabe da quantidade de acidentes e mortes, e é lamentável. O que muitos não reparam é nos ‘processos legais’ que entopem o sistema judicial, o dinheiro gasto a planear e concretizar formas de melhorar este sistema, e sim, as quantidades de combustível que se gasta à espera. Tudo dinheiro que vai ao ar, e como é público, é o seu dinheiro que está ali à sua frente na forma de um reluzente semáforo/sistema xpto de coordenação de semáforos (esse não se vê…mas sente-se). Heck! até me atrevo a lançar a carta do ambiente, porque o smog existe por alguma razão, não foi deus que o criou para nos castigar. Ah e sim, somos umas marionetas que obedecem ao todo poderoso semáforo, *cough* entidades reguladoras *cough* estado.

 

Convém referir que as regras de trânsito foram implantadas sem grande pesquisa por parte dos legisladores, passo a citar Kenneth Todd “Contemporary writings describe how traffic laws were adopted without prior research on the basis of personal opinion”, “The fallacy has been to cram 'good medicine' down people's throat because the ’experts’ thought it was good for them,” wrote Judge Edward G. Fisher in his Vehicle Traffic Law.

 

Tornamo-nos condutores negligentes pois sabemos que não podemos mudar a ordem do trânsito e deixamo-nos embalar pelo bip bip bip. Claro que não convém ao Estado não investir nisto pois alimenta uma indústria multibilionária (artificialmente claro).

 

One might have thought that the authorities would focus not only on using less restrictive controls as alternatives to new traffic signal installations but also as replacement for existing ones.

Yet in the years 1998 to 2001, the states received $1.13 billion in federal aid for traffic signal installations and improvements. The Federal Highway Administration (FHWA), which claims safety to be its first priority, does what no other government agency would be allowed to do. If the airports operated a federal-aid air traffic control system so unsafe that the Federal Aviation Administration's guidelines advised against its use, there would be a public outcry, a spate of malpractice suit and a congressional investigation.’ (mais Kenneth Todd)

 

Mas vamos cometer uma loucura! E se…tirarmos os semáforos? O que será que acontece? Possivelmente instalar-se-ia o caos com acidentes, sangue, tripas em todas as direcções, talvez até um Godzilla ou um King Kong a passear pelo meio dos destroços. Como é possível então haver ordem no caos se ninguém controla o inútil do ser humano? Pois bem, tenho uma ‘novidade’. Em Portishead, perto de Bristol (Inglaterra) a Junho de 2009, os semáforos da ‘Cabstand Junction’ falharam durante umas horas e desde então aquele sítio tem sido lugar de experimentação para remover todos os controladores de trânsito. (http://www.youtube.com/watch?v=vi0meiActlU&feature=player_embedded) Para grande admiração da população local, o trânsito fluiu naturalmente, imperando as regras do bom senso e cortesia; chega-se a poupar 10 a 15min de viagem e todos sabemos que isso pode fazer a diferença. Além disso até à data (pelo menos do vídeo do Cassini) não houve nenhum atropelamento/ninguém ficou ferido e apenas dois pequenos toques. Isto tem obviamente uma razão de ser: o condutor quando chega à intersecção em vez de se focar estritamente no semáforo (que deixa de ‘existir’) passa a olhar em redor, toma consciência dos outros condutores e peões e através dessa análise toma uma decisão. Até parece que estamos na presença de uma utopia.


Mas agora o leitor mais inquisidor diz ‘Ah mas isso é a um nível micro, essas estradas não são nada comparadas com as das grandes cidades! É impossível isso resultar!’. Bem já aconteceu (http://www.youtube.com/watch?v=lBcz-Y8lqOg&feature=related) em Washington DC e Londres (Novembro 2006; Fevereiro 2007) quando as luzes falharam notando-se uma fluidez maior de trânsito; no entanto fazer com que o estado reconheça os benefícios de tal ‘não-sistema’ é uma tarefa árdua porque claro, as entidades reguladoras não se demonstram muito receptivas a experiências de maior envergadura; sabem muito bem o que lhes acontece assim que existirem mais provas sobre as vantagens do não-uso de semáforos. A sua ineficiência ir-se-á notar de maneira gritante.

 

Resumindo: mais poder de decisão às pessoas. O estado quer fazer-nos passar (atrevo-me a dizer ‘tornar-nos em’) por atrasados mentais que não sabem aplicar bom senso no seu dia-a-dia, e se limitam a distinguir luzinhas num robot. E assim se adquirem maus hábitos. Restringem as nossas acções a cada dia que passa de uma maneira muitas vezes subtil e que nos escapa à primeira vista até começarmos a senti-la na pele muito tempo depois. PENSEM, não transformem o vosso cérebro numa massa amorfa sem utilidade.


Para quem estiver interessado em saber mais: http://www.bikewalk.org/pdfs/trafficcontrol_backtobasics.pdf

publicado por Rita Mariquitos às 18:47

Embora possa concordar contigo relativamente ao facto de uma grande percentagem de semáforos serem inúteis, pouco inteligentes e fazerem desesperar os condutores, há várias localidades onde a sua aplicação reduziu drasticamente o número de mortes...

As antigas nacionais, especialmente no interior do País eram sepulturas para muita gente e os números de mortes diminuíram drasticamente aquando da instalação daqueles semáforos "inteligentes" que mudam para vermelho com o excesso de velocidade.

Zonas de péssima/nula visibilidade (cruzamentos sem visibilidade nas ruelas de Lisboa, faixas de 2 sentidos alternados, vias alternáveis, locais de construção, etc.) também se revelaram localizações interessantes para a instalação de semáforos.

Outro grande ponto é o factor risco pessoal e os semáforos conseguiram diminui-lo drasticamente.

Depois há factores da ordem individual: os semáforos tornaram fáceis muitos cruzamentos que antigamente fariam suar o mais experiente automobilista. Refiro-me por exemplo à rotunda do relógio, do Marquês de Pombal e outros brilhantes exemplos de "arquitectura portuguesa". Quantos de nós não desesperámos já com aprendizes, senhoras (=P) menos experientes e idosos enquanto suas excelências se decidiam avançar para escolher o pior dos momentos para o fazer (aquele em que se aproxima um veículo bem depressa).

Relativamente à sinalização na generalidade basta fazer uma viagem pelas velhas nacionais alentejanas, de noite, para sentimos o perigo de uma condução "às escuras".

Beijo,
Hugo
Hugo Gaspar a 11 de Maio de 2011 às 19:48

Olá Hugo, desde já obrigado pelo comentário!

Eu percebo as tuas reticências no que toca à remoção dos semáforos. Os condutores não têm muita consciência cívica não é? Nem experiência. Mas repara que muitos dos casos em que se aplicam semáforos é a cruzamentos e estradas (tal como as nacionais que falaste) que estão mal dimensionados logo de raiz, e os semáforos são uma espécie de 'half assed solutions' (desculpa mas não encontro melhor termo). Num dos videos acima é dito 'Traffic lights treat the symptoms, never the cause'. O que me estou a focar no texto é a eliminação das regras da prioridade/semáforos. Uma pessoa com dois dedos de testa não iria arriscar a sua vida (nem a dar cabo do carro) e meter-se à parva num cruzamento sem sinalização/sem regras, daí ir com uma cautela extra que a beneficia e aos peões (caso existam). Os semáforos criam uma sensação falsa de segurança, achamos que por lhes obedecer conseguimos uma condução mais segura. Nos exemplos que refiro aconteceu o contrário, constataram-se até menos acidentes ou nenhuns. Acho que é uma perspectiva interessante para explorar a uma maior escala.

Estou curioso e ao mesmo tempo reticente relativamente a uma experiência dessas, em Portugal e em larga escala =)

Mas concordo contigo quando dizes que os semáforos são soluções para problemas de tráfego criados por más soluções de engenharia/políticas/económicas/whatever...

Anónimo a 14 de Maio de 2011 às 13:06

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