O REPLICADOR

Dezembro 19 2009

A notícia do momento é a de que Barack Obama chegou a Copenhaga pronto para fazer história, habituado que está a fazer história mesmo sem precisar de agir (aka prémio Nobel). Por outro lado, a notícia a destacar é a de que a conferência de Copenhaga terminou sem qualquer acordo vinculativo e, consequentemente, para além das operações de cosmética, o presidente americano não terá que tomar quaisquer medidas, sendo assim desnecessário agir. Com alguma conveniência, Obama surge nesta ocasião com um discurso onde revela que está comprometido a “ajudar” no combate à luta ao aquecimento global com transferência avultadas dos rendimentos dos contribuintes americanos para a ajuda ao desenvolvimento ecológico dos países mais pobres. Adicionalmente, para reduzir a emissão de gases com efeito de estufa, compromete-se a afectar a própria economia americana prometendo reestruturações na economia que, tal como a anterior administração americana revelou para o protocolo de Quioto, custariam a perda de pelo menos 5 milhões de postos de trabalho. Desta feita não há ainda números que afiram as perdas destas políticas propostas pelo presidente americano, mas é fácil de perceber que não seriam mínimas.

 

Mais importante do que as promessas (que provavelmente nunca serão cumpridas), está a afirmação perentória de que o aquecimento global é uma certeza científica: “This is not fiction, it is science” proferiu Obama em forma de resposta aos cépticos. Consequentemente, o mais alto representante do povo americano entrega-se sem reservas a um consenso que, a existir, é meramente burocrático e não é de todo científico, sabendo-se que inúmeros cientistas em todo o mundo contestam oficialmente a ciência que está por trás do alegado efeito antropogénico. Não é só o escândalo do climategate (onde se descobriram fraudes e manipulações de dados por parte de cientistas ligados à ONU) que devia fazer Barack Obama parar para pensar, o facto de a maioria dos americanos não apoiar a ideia do aquecimento global também o devia forçar a ter uma postura institucional mais representativa e menos personalista, se bem que pedir menos personalismo a Barack Obama seria como pedir ao Francisco Louçã para ler e gostar de Friedrich Hayek.

 

Concomitantemente, o presidente americano, que não consta que seja cientista, colocou as mãos no fogo por uma facção de cientistas pró-aquecimento global que têm todo o interesse em manter o alarmismo ecológico de forma a garantirem que fundos governamentais continuem a ser canalizados para as suas investigações. Barack Obama, com grande probabilidade, está consciente que a ciência neste processo é irrelevante, porque o que está em causa não é o clima e muito menos um suposto aquecimento global. Com a UE como motor, o que está em causa é a reestruturação energética que o ocidente quer fazer de forma a libertar-se da dependência de energia fóssil que o faz ficar politicamente dependente dos grandes produtores de petróleo. A necessidade de outras formas de energias torna-se assim premente.

 

Mas porque é que esta reestruturação não é feita unilateralmente sem precisar de deste acordo global? Em primeiro lugar porque esta mudança iria ser dispendiosa e, ao mesmo tempo, iria severamente limitar o crescimento económico dos países ocidentais em comparação com o crescimento que se verifica actualmente devido ao consumo de energia barata. Como consequência, verificar-se-ia uma perda de competitividade por parte do Ocidente em relação ao outros países que, ao continuarem a usar energia barata vinda do petróleo, seriam economicamente mais poderosos ganhando vantagens competitivas. Assim sendo, o ocidente precisa de um acordo global para convencer os países em vias de desenvolvimento a enveredarem por esta reestruturação energética de forma a que a lógica de poderes na ordem internacional se mantenha com a (ainda) actual supremacia ocidental. Em segundo lugar, os líderes europeus (a que se junta agora Obama) não querem esperar que seja a lógica natural do mercado, nem a vontade dos consumidores, a determinar  essa mudança estrutural energética. Querem sim, ao bom velho estilo europeu, que a mudança seja feita de cima para baixo, isto é, através de subsídios em massa para os sectores escolhidos pelos governos, criando uma grande economia subsidiada pelos rendimentos dos contribuintes, mesmo que tal signifique uma imposição de produtos aos consumidores, produtos mais caros, perda de qualidade de vida e sectores improdutivos que seriam novas “funções públicas” a sobreviver através dos apoios estatais. Não é surpresa, o aquecimento global foi o motor que permitiu empurrar todos os países para dentro deste barco, seja ele real ou não.

 

Na realidade, como se verifica pelo resultado praticamente nulo desta conferência, nenhum país gosta particularmente de estar neste barco com excepção para a UE, que, ao não ter reservas petrolíferas,  está particularmente interessada na mudança do paradigma energético. Os líderes europeus, tal como Barack Obama, dizem-nos que estes investimentos público vão trazer novos empregos e uma produtividade superior, continuando a vender um keynesianismo que, apesar de ser economicamente destrutivo a médio/longo prazo, continua a fazer as delícias do empowerment político. Com o imposto global sobre as emissões de gases com efeito de estufa, o empowerment político ganha uma nova dimensão global, visando, tal como o novo presidente da UE Herman Von Rompuy proferiu, um acordo de governança mundial, num processo de afastamento do poder de decisão do povo que seria o pesadelo de homens como Thomas Jefferson ou John Locke na sua defesa do máximo poder popular e do mínimo poder estatal possível.

 

Sejam quais forem as intenções de todo este processo, torna-se claro que o aquecimento global é um mero pormenor e que a conferência de Copenhaga era sobre tudo menos sobre as alterações climáticas. De tal forma este processo é inusitado que líderes como Robert Mugabe ou Hugo Chavez terminam bem nesta pitoresca fotografia. Robert Mugabe, através das suas políticas draconianas, foi um bom aluno conseguindo reduzir substancialmente nos últimos anos as emissões de Co2. Igualmente, no fim da conferência, Hugo Chavez, ao querer defender a sua subsistência proveniente do petróleo da Venezuela, terminou a dizer que não queria saber deste acordo porque, na sua essência, este já implica responsabilidades económicas por parte dos países em vias de desenvolvimento.

 

Há inúmeras questões a serem esclarecidas em todo este empreendimento ecológico: o aquecimento global, o climategate, a fraude científica, os dados que revelam que não há uma correlação entre as emissões de Co2 e as alterações climáticas, entre várias outras. Contudo, todas estas questões não merecem importância porque, para os efeitos pretendidos neste processo, o mundo verde é um meio e não um fim.

 

 

 

publicado por Filipe Faria às 16:37

A tua crença na economia de mercado é teimosa. O que fez o mercado por nós senão trazer grandes recessões?
Rita Rato a 19 de Dezembro de 2009 às 17:39

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