O REPLICADOR

Junho 19 2010

Na minha longa ausência parece que o sapo alterou o painel de controlo do blog. É o futuro. E é disso que eu vou (tentar) tratar hoje.

 

Vejam os filmes que se passam no futuro. Retirando os cenários pós-apocalípticos, quais são as características semelhantes? Roupa demasiado justa, gente magra, com ar saudável, uma sensação de ordem mundial. Harmonia. Talvez um dia.

 

Os senhores que se julgam iluminados e governam o proletário, inculto e incapaz, querem levá-lo a esse futuro (talvez seja alguma pancada com roupa justa). E assim criam leis para nos tornar melhores, favorecer o crescimento, a evolução científica e a saúde. E é aqui que o sal entra na equação. Em 2009 foi aprovada uma lei que definia um limite máximo do sal no pão habitual, aquele que os avós vão comprar à padaria a horas que o ser humano normal não consegue conceber sequer de uma forma abstracta. Não sei se entretanto o limite foi actualizado nem interessa. O que interessa é o meu direito à liberdade. Consta que está na constituição! E eu quero pão com sal!

 

Vejamos os factos semi-médicos: a sensação de salgado gera tolerância, ou seja, uma pessoa habituada a comer tudo com muito sal não vai notar no exagero que está a consumir. E o sal provoca hipertensão. E a hipertensão provoca uma panóplia de doenças cardiovasculares interminável. Doenças que serão tratadas pelo SNS que vai buscar o seu dinheiro aos trabalhadores que contribuem. A redução de sal no pão, um alimento consumido em quantidades significativas em Portugal, é então uma medida que tem o potencial de aumentar a saúde da populaça e reduzir os custos médicos que têm "cárdio" como prefixo.

 

Mas o que eu quero mesmo é um pão que saiba a pão. De vez em quando é o que me apetece! Só que dizem que não posso. É um pouco irritante. Isto leva a reavaliar todo o processo que descrevi acima: o governo não deve ter a capacidade de me dizer o que posso ou não consumir mas o consumo de sal lesa-me a mim e ao contribuinte. E este último não deve ser obrigado a pagar pelos meus vícios, não é verdade? Então o problema só pode ser o SNS!

 

E o sistema nacional de saúde trás problemas atrás de problemas, desde o monopólio dos seguros de saúde (porque absorve tanto mercado que só grandes companhias conseguem sobreviver ao lado deste monstro desfigurado) ao mau tratamento dos utentes, passando pela destruição do potencial de investigação médica de um país e aos preçários desiquilibrados. Mas aí vou fugir ao ponto fulcral. A liberdade de seguir o nosso caminho. É uma frase bonita e a que todos aspiramos, apagada pelo socialismo. A partir do momento que o estado reúne os plebeus num sistema comum, mesmo que pense que é a seu favor, está a pisar nos calos de muitos. Não se pode oferecer saúde a todos sem limitar o seu acesso a produtos que a lesam. Não se pode prometer educação para todos sem definir o que é esta e assim ocupar o tempo de crianças a ensinar-lhes algo que nunca na vida lhes será útil. Não se pode dar segurança social sem privilégios que alguns não querem e estão ainda assim a pagar.

 

Aqueles filmes do futuro retratam sempre um planeamento central e uma completa ausência de diversidade. No futuro não haverá liberdade então.

 

"THEY CAME FIRST for the Communists,
and I didn't speak up because I wasn't a Communist.

THEN THEY CAME for the trade unionists,
and I didn't speak up because I wasn't a trade unionist.

THEN THEY CAME for the Jews,
and I didn't speak up because I wasn't a Jew.

THEN THEY CAME for me
and by that time no one was left to speak up."

 

Já devem ter ouvido isto em algum lado. E aqui se passa o mesmo.

 

Primeiro eles baniram a droga e eu não disse nada porque não a consumia. Depois cortaram o sal no pão e eu não disse nada porque não era um peso impossível. Para quando banirem os rebuçados e o dióxido de titânio dos flocos de neve? E nessa altura quem vai gritar que é demais, quando o governo já governa tudo o que toca os nossos lábios?

publicado por João Rodrigo às 21:18

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