O REPLICADOR

Fevereiro 06 2010

 

 A revista Vanity Fair colocou várias actrizes na capa de uma das suas edições. Até aqui nada de anormal. As actrizes são conhecidas do público e figuram como promessas da 7ª arte. Porém, segundo consta, há uma falha grave nesta foto: elas são todas caucasianas, coisa que, como se sabe, devia ser expressamente proibido no entender dos que acusam a revista de racismo por não incluir nessa capa qualquer mulher negra, latina ou asiática. Por mais surreal que seja, parece que o assunto está mesmo presente em boa parte da imprensa. Artigos como o de Hanna Pool do The Guardian contribuíram para o efeito.

 

De acordo com esta lógica, uma revista privada, independente do Estado e livre, não pode escolher as pessoas que coloca na capa a não ser que inclua a quota racial obrigatória. Calculo que o próximo passo seja pedir a institucionalização de quotas raciais nos media, na publicidade e na arte. Porquê deixar os indivíduos escolherem se eles ainda acabam a escolher de forma iníqua? De acordo com estas vozes, podemos depreender que a liberdade de escolha é espúria e deve subjugar-se a um conceito elusivo de igualdade.

 

Como já demonstrei em vários textos, oponho-me por princípio a qualquer sistema de quotas discriminatórias com base em grupos humanos, sejam eles de género, raça ou culturais. No Brasil, a título de exemplo, o governo trabalhista do presidente Lula instituiu quotas para negros nas Universidades nacionais; mas até agora, apesar de tudo, só encontrei essas reivindicações no acesso a cargos e posições públicas e não no privado. Contudo, com o rumo do politicamente correcto que está patente nestes protestos contra as opções editoriais de uma revista, podemos antever um cenário onde as personagens indignadas pedem ao Estado para regular as escolhas dos privados neste contexto. Chegaremos ao cúmulo de ter páginas de jornais com sectores obrigatórios para cada raça e género.

 

Esta paranóia anti-racista, tal como todas as discriminações positivas, acaba por ter como resultado o racismo invertido, que produz os mesmos efeitos do próprio racismo. Este efeito torna-se óbvio em discursos como o que a psiquiatra afro-americana Frances Welsing produziu quando tenta aferir academicamente o porquê do racismo branco em relação aos negros. Entre outras explicações, revela que a hostilidade dos brancos para com os negros se deve a um complexo de inferioridade (inconsciente) por parte dos caucasianos perante uma superioridade genética da raça negra, pois considera que a raça branca sofre de uma deficiência genética que impede a produção de melanina de forma a gerar a cor escura da pele. Considera assim que os brancos são uma espécie de Albinos em relação aos negros e que são geneticamente dominados pela raça negra, alegando que a frase “One drop of black blood makes you black” existe porque a raça negra tem a capacidade para aniquilar a raça branca. Acrescenta ainda que a hostilidade branca advém da tentativa de evitar a sua extinção. 

 

Como está patente neste discurso da Dr. Frances Welsing, qualquer tentativa de dissecar o racismo pressupõe uma afirmação de parcialidade por parte de um dos lados. Consequentemente, fomentar e desculpabilizar a discriminação racial positiva no âmbito legal, mesmo quando se reveste de argumentos igualitários politicamente correctos, é um caminho que não devemos trilhar. 

 

 

 

publicado por Filipe Faria às 09:30
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Janeiro 23 2010

Há algum tempo estava na universidade a conversar amenamente com um colega e a comentar a abundância de estudantes do sexo feminino nessa instituição. Ele respondeu-me que esse facto se devia a estarmos numa universidade de ciências sociais que atrai essencialmente mulheres a uma média que supera os 80% em alguns cursos. Hesitei, perguntei-me o que estava ali a fazer, questionei por uns segundos os meus índices de testosterona, e respondi, não muito seguro, que ainda bem que assim é pois desta forma temos mais escolha e um melhor ambiente (pelo menos visual). Ficamos calados por instantes pois ambos sabíamos que elas estão lá geralmente para trabalhar em prol de boas notas e que mesmo que fossemos o Brad Pitt e o Jude Law (apesar de estarmos muito próximos) dificilmente teríamos alguma sorte, ou azar, mediante a perspectiva. Depois acrescentei que, actualmente, já mais de 60% dos alunos universitários são do sexo feminino e que mesmo nos cursos considerados “masculinos” como engenharia ou gestão as mulheres ganham visivelmente terreno. E mais, segundo o Instituto Nacional de Estatística, em Portugal, já no ano de 2004 as mulheres tiravam 2 vezes mais licenciaturas do que os homens. Ele pareceu-me assustado, mas como queria manter a conversa num tom satírico, disse que qualquer dia os socialistas vão querer quotas para os homens poderem entrar nas universidades visto que elas mostram ser mais metódicas e mais disciplinadas que eles, e, em média, isso revela-se nos resultados finais. Continuou dizendo que como os socialistas prezam mais a igualdade de resultados do que o mérito e a igualdade processual, estava à espera que mais ano menos ano surgissem esquerdistas a defender a presença dos homens nas universidades em detrimento das mulheres. Ambos rimos, sabendo-se que os socialistas são sempre uma boa fonte de humor, mas penso que nenhum de nós acreditava realmente nisso. Que ingénuos que fomos.

 

Na realidade, enquanto nós estávamos a ter aquela conversa cuja conclusão julgámos absurda, já os suecos tinham aprovado quotas para os homens no acesso ao ensino superior para combater a supremacia feminina nas universidades locais. Não nos devíamos surpreender, afinal de contas, como se sabe, os escandinavos são o modelo do mundo progressista social democrata. Para além de parecerem mais obcecados com a igualdade redistributiva do que com a liberdade individual, os escandinavos gostam de arriscar em prol dessa igualdade. Arriscaram no prémio Nobel da paz dado a Obama apenas pela sua aura messiânica e arriscaram igualmente na instauração de quotas para garantirem a igualdade de género nas faculdades ao aperceberem-se que as mulheres estão em muito maior percentagem nas universidades do que os homens.

No entanto, como era de calcular, a experiência não correu bem e gerou efeitos discriminatórios claramente injustos:

 

"The regulatory framework has caused inequality, writes Tobias Krantz. Last year it was almost exclusively women, 95 per cent, who got excluded because of their gender."

 

Depois de as mulheres que tinham mérito para entrarem nas universidades terem visto a sua entrada barrada devido ao sistema de quotas para homens, os seus protestos surtiram efeito e o ministro para o ensino superior sueco anunciou que vai terminar com o sistema de quotas considerando que estas geraram mais desigualdade do que igualdade. O mais intrigante desta história é saber como é que não se percebeu de início que este seria o inevitável desfecho, de tão óbvio que era. Naturalmente, a visão deve ter sido toldada pela indomável fúria progressista que visa a igualdade a qualquer custo, mesmo que para isso se passe por cima dos direitos naturais dos indivíduos, no fundo, um clássico da história humana.

 

As quotas, sejam elas para mulheres, homens, negros, brancos ou amarelos, são sempre uma discriminação positiva que vão em última instância prejudicar não só os elementos com mais mérito que vêem o acesso vedado por pessoas com menos mérito, mas também os próprios elementos que são positivamente discriminados, pois estes passam a ser vistos como elementos sem valor que subiram injustamente na sua posição social. Ademais, nenhum sistema pode ser optimizado se o critério principal não for o mérito e o liberdade de escolha.

 

A conversa com o meu colega findou no momento em ele foi socializar com umas colegas do sexo oposto. Mais tarde voltou algo indignado porque elas não pareciam especialmente receptivas. Como consequência, disse-me que se calhar umas quotas de mercado feminino só para ele não seria nada mal pensado, visto não gostar da concorrência masculina externa. Só os socialistas lhe poderiam resolver o problema. Quando o vi a clamar pelo senhor Sócrates lembrei-me do que significam realmente as quotas: privilégios legais sobre outros. 

 

 

 

publicado por Filipe Faria às 03:54

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