A revista Vanity Fair colocou várias actrizes na capa de uma das suas edições. Até aqui nada de anormal. As actrizes são conhecidas do público e figuram como promessas da 7ª arte. Porém, segundo consta, há uma falha grave nesta foto: elas são todas caucasianas, coisa que, como se sabe, devia ser expressamente proibido no entender dos que acusam a revista de racismo por não incluir nessa capa qualquer mulher negra, latina ou asiática. Por mais surreal que seja, parece que o assunto está mesmo presente em boa parte da imprensa. Artigos como o de Hanna Pool do The Guardian contribuíram para o efeito.
De acordo com esta lógica, uma revista privada, independente do Estado e livre, não pode escolher as pessoas que coloca na capa a não ser que inclua a quota racial obrigatória. Calculo que o próximo passo seja pedir a institucionalização de quotas raciais nos media, na publicidade e na arte. Porquê deixar os indivíduos escolherem se eles ainda acabam a escolher de forma iníqua? De acordo com estas vozes, podemos depreender que a liberdade de escolha é espúria e deve subjugar-se a um conceito elusivo de igualdade.
Como já demonstrei em vários textos, oponho-me por princípio a qualquer sistema de quotas discriminatórias com base em grupos humanos, sejam eles de género, raça ou culturais. No Brasil, a título de exemplo, o governo trabalhista do presidente Lula instituiu quotas para negros nas Universidades nacionais; mas até agora, apesar de tudo, só encontrei essas reivindicações no acesso a cargos e posições públicas e não no privado. Contudo, com o rumo do politicamente correcto que está patente nestes protestos contra as opções editoriais de uma revista, podemos antever um cenário onde as personagens indignadas pedem ao Estado para regular as escolhas dos privados neste contexto. Chegaremos ao cúmulo de ter páginas de jornais com sectores obrigatórios para cada raça e género.
Esta paranóia anti-racista, tal como todas as discriminações positivas, acaba por ter como resultado o racismo invertido, que produz os mesmos efeitos do próprio racismo. Este efeito torna-se óbvio em discursos como o que a psiquiatra afro-americana Frances Welsing produziu quando tenta aferir academicamente o porquê do racismo branco em relação aos negros. Entre outras explicações, revela que a hostilidade dos brancos para com os negros se deve a um complexo de inferioridade (inconsciente) por parte dos caucasianos perante uma superioridade genética da raça negra, pois considera que a raça branca sofre de uma deficiência genética que impede a produção de melanina de forma a gerar a cor escura da pele. Considera assim que os brancos são uma espécie de Albinos em relação aos negros e que são geneticamente dominados pela raça negra, alegando que a frase “One drop of black blood makes you black” existe porque a raça negra tem a capacidade para aniquilar a raça branca. Acrescenta ainda que a hostilidade branca advém da tentativa de evitar a sua extinção.
Como está patente neste discurso da Dr. Frances Welsing, qualquer tentativa de dissecar o racismo pressupõe uma afirmação de parcialidade por parte de um dos lados. Consequentemente, fomentar e desculpabilizar a discriminação racial positiva no âmbito legal, mesmo quando se reveste de argumentos igualitários politicamente correctos, é um caminho que não devemos trilhar.