O REPLICADOR

Janeiro 09 2010

1- Sobre o estado de natureza hobbesiano

 

Segundo Friedrich Hayek, o estado de natureza de Thomas Hobbes é um mito; refere-se naturalmente ao estado cruel onde o Homem vive  num estado permanente de todos contra todos. O modelo individualista, ultracompetitivo e agressivo que Hobbes propôs para explicar as origens das sociedades nunca podia ter existido segundo o autor austríaco. Da mesma forma, Darwin defende que o Homem sempre foi social desde que nasceu, com laços competitivos mas também de entreajuda entre os membros geneticamente mais próximos, ou seja, da mesma tribo. Igualmente, o próprio Hayek caracterizou o homem selvagem de uma forma que poderá surpreender os que o vêem como um extremo defensor da cultura individualista:

 

“The savage is not solitary, and his instinct is collectivist”

F. Hayek

 

2- Evolução social

 

Ambos consideram que a selecção natural se faz ao nível do indivíduo e não do grupo, mas isto é essencialmente válido no campo da evolução biológica. No campo da evolução social (ou cultural) o processo é, em larga medida, Lamarckiano: as inovações que foram adquiridas durante o espaço de uma vida são transmitidas à comunidade de forma a produzirem uma sobrevivência  e reprodução mais eficazes. Ambos os autores consideram que a capacidade para imitar é provavelmente a característica mais importante para o desenvolvimento do conhecimento humano. Darwin chegou mesmo a aceitar a premissa de Alfred Wallace quando este diz que muito do trabalho inteligente do homem é feito por imitação e não através da Razão. Mais especificamente, a título de exemplo, quando um homem inventa uma arma eficaz para si mesmo, com o intuito de atacar ou defender, todos os outros elementos vão imitá-lo, não porque vão usar a Razão para racionalizar as consequências, mas sim por razões emulativas de equilíbrio de poder e sobrevivência.

 

3- Transmissão de cultura

 

A transmissão de cultura entre grupos foi descrita por Darwin da seguinte forma:

 

“We can see, that in the rudest state of society, the individuals who were the most sagacious, who invented and used the best weapons or traps, and who were best able to defend themselves, would rear the greatest number of offspring. The tribes, which included the largest number of men thus endowed, would increase in number and supplant other tribes. Numbers depend primarily on the means of subsistence, and this depends partly on the physical nature of the country, but in a much higher degree on the arts which are there practised. As a tribe increases and is victorious, it is often still further increased by the absorption of other tribes”

C. Darwin

 

 

Desta forma, ao contrário dos argumentos dos defensores da cultura imutável, a cultura e a evolução social dão-se de forma transcultural através da imitação das inovações que se impõem como mais eficazes para resolver problemas. Em paralelo, um determinado grupo que perceba que outro grupo está a dar-se bem com determinadas inovações políticas irá sentir-se tentado a adoptar essas mesmas políticas. A isto podemos chamar globalização cultural, que apenas oferece resistências quando os Estados centrais, ou outras organizações centralizadas, rejeitam essas mesmas inovações que provêm de outras localidades. O indivíduo facilmente adopta essas mesmas inovações que funcionam com outros indivíduos, mas nem sempre os Estados têm interesse em fazê-lo por razões que se prendem com a manutenção de poder.

 

4- Solidariedade social e Estado

 

Ao rejeitar o contrato social hobbesiano por considerar que o estado prévio ao contrato não define a natureza humana, Hayek relembra que a ideia de Darwin não é a simples vitória dos mais aptos através da dura competição, é sim uma mistura de cooperação e competição que permitiu o desenvolvimento humano até aos dias de hoje, sem que fosse o contrato social a definir as premissas fundamentais do comportamento humano. Não será por existir mais intervenção dirigista do Estado que vamos cooperar mais nem por haver menos intervenção de Estado que vamos competir mais, podemos é competir pior e cooperar pior. Naturalmente, ao perguntarmos qual a solução que mais beneficia o todo, a resposta é clara, não só em Hayek mas também em Darwin: a política da liberdade individual e da não intervenção estatal, pois a entreajuda e a solidariedade social não começaram com o Estado providência, nem sequer com o Estado, começaram sim com os primeiros humanos.

 


Julho 09 2009

                 Além de serem muito interessantes, as ciências ligadas ao evolucionismo têm a vantagem de ter aplicação directa no nosso dia a dia. Além de nos ajudarem a compreender a lógica de certos comportamentos, como também na parte sexual, menos racionalizada, o seu potencial explicativo é ainda mais forte. A psicologia evolutiva ajuda-nos, por exemplo, a perceber porque é que, nas raparigas, certas características são mais atraentes que outras, assim antes de tudo a simetria funciona como o primeiro indicador de qualidade genética. Com efeito, da mesma forma que um agrupamento de pedras disforme no meio do deserto não chama a atenção, uma figura geométrica realizada com pedras alinhadas menos provavelmente terá sido obra do acaso, mas sim terá seguido um plano de construção. O mesmo acontece com os genes porque um rosto simétrico revela um código genético coerente. Além da simetria, cabelos e unhas compridas e saudáveis são indicadores de uma alimentação equilibrada, essencial para poder levar a cabo uma hipotética gravidez , pois mesmo que quando tenhamos sexo não pretendemos reproduzir-nos, a nossa percepção da atractividade sempre favorece pessoas que apresentam altos sinais de fertilidade. É nesse âmbito que um homem tende a favorecer parceiras mais jovens, loiras (é um sinal de juventude) e com peito generoso, isso porque numa época mais remota onde ainda não havia soutien as mamas maiores eram mais sujeitas  ao desgasto da gravidade e do tempo, logo um peito grande, firme e mantido era sinal garantido de juventude. Algo mais misterioso, é o facto de as mulheres que apresentam um rácio cintura-ancas próximo de 0,7 serem consideradas mais atraentes. Vários estudos históricos vêm mostrar que mulheres apresentando esta proporção têm em média mais filhos e são menos sujeitas a doenças e a cancros.

 

Sim senhor, sendo isto de facto muito giro, ninguém precisa de ser um génio ou de ter lido Darwin para saber se uma gaja é boa ou não, pois o processo de avaliação da fertilidade do parceiro sexual é feito de forma inconsciente, sendo este processo determinado pelos nosso próprios genes. No entanto, a psicologia evolutiva permite prevenir-nos contra o desperdicio dos nossos esforços, assim como tornar-nos mais eficientes na busca de um parceiro. Algo fundamental a perceber, é que as mulheres neste esquema são sempre “choosers”: a escassez das suas células sexuais em oposição aos espermatozóides faz com que elas sejam extremamente selectivas em relação a com quem e quando copular. É portanto muito util para nos homens, perceber os sinais de “convite” para podermos concentrar os nossos esforços.

 

Nas atitudes que podem indicar algum interesse, são considerados mexer no cabelo (valorizar a mercadoria) quando estão a falar connosco, pupilas dilatadas (dai os olhos claros serem favorecidos, pois facilitam a apreensão) e mãos nos braços ou qualquer contacto físico no momento da conversação. De uma forma mais geral, podemos considerar qualquer forma de entrada em contacto directa connosco (sms, ser interpelado, pedido de amizade num site de rede social...) na medida em que elas sendo na posição de empregadoras, é sempre excelente sinal elas nos darem um pouco de atenção extra, seguindo a lógica de um pedido de entrevista para possível contratação.

 

Colocando a metáfora do mercado de trabalho, as gajas tendem a escolher dois tipos de candidatos:

-o idilio domestico, que corresponde ao gajo que investe muito na relação, gasta dinheiro, paga as bebidas todas, da-lhe muita atenção, em suma, mostra que está aqui para apoia-la, e que não irá deixa-la para meter a grainha noutras férteis terras...

- o Alpha male, é o gajo que apresenta caracteristicas genéticas excepcionais: beleza, força física, grande inteligência, humor fora do comum, capacidade a transmitir confiança. O objectivo de copular com este tipo de homens para as mulheres deixa de ser uma garantia de subsídio à criação dos filhos, para ser a garantia de um filho superior, com melhores capacidades de adaptação ao ambiente.

 

Em jeito de pequena conclusão, e seguindo o engate na lógica do mercado de trabalho, podemos dizer que há cargos mais exigentes que outros, patrões mais chatos que outros e que em geral as empresas são extremamente ciumentas, pois não gostam de ver os seus empregados a flirtar com outras empresas da concorrência. Pois querem explorar os seus trabalhadores ao máximo, só oferecem CDI, não querem empregados em part-time. Neste mercado de “engate”, é portanto recomendado ser um candidato fiel e altamente qualificado, e apresentar a sua candidatura somente quando alguém entra em contacto connosco, sendo que não vale meter currículos em todos os lados, pois é dada a impressão que o candidato está deseperado para conseguir um trabalho... e, claro, convém ter cunhas.

 

 

publicado por Alexandre Oliveira às 02:39

Julho 09 2009

John Rawl apresenta-nos uma teoria da justiça onde a sociedade deve funcionar sempre a favor dos mais desfavorecidos, mantendo as liberdades e igualdades de oportunidades. O autor considera que a sociedade deve compensar as faltas de aptidões inatas com que as pessoas nascem, fazendo com que os mais talentosos e trabalhadores aceitem ceder os frutos do seu trabalho para os menos favorecidos pela natureza; desta forma, atingiremos uma sociedade tendencialmente igualitária.

Será interessante tentar perceber o efeito que uma sociedade desta índole teria sobre algo tão fundamental como a selecção sexual de Darwin.
Na selecção sexual de Darwin inferimos que a escolha do parceiro sexual é feita com vista a passar aos descendentes os melhores genes (os genes que estão mais bem adaptados ao contexto), para que eles possam ter características que os façam sobreviver e prosperar nas próximas gerações, ou seja, para terem boas armas de sobrevivência. Contudo, este paradigma poderia ser colocado em causa na sociedade Rawlsiana. Como na sociedade de Rawls todos devem ser compensados pela sua falta de talentos naturais, a selecção sexual, em teoria, perderia o sentido: escolher uma pessoa muito inteligente, pouco inteligente, feia, bonita, gorda, magra, seria virtualmente irrelevante para o propósito da selecção sexual, visto que nessa sociedade, os seus descendentes iriam ser compensados por toda a falta de virtudes inatas que pudessem ter. Adicionalmente, ter ou não ter qualidades inatas seria praticamente irrelevante na sobrevivência destes. Neste sentido, a própria selecção natural estaria colocada em causa. Escolher o parceiro sexual em função dos genes que se quer deixar aos filhos não faria qualquer sentido numa sociedade que empreenda a teoria da justiça de Rawls.

É certo que a selecção sexual não consegue ser parada facilmente por qualquer sistema político, seja ele qual for. Será lógico supor que se geraria uma “economia relacional paralela” que iria estabelecer critérios de selecção para que a selecção sexual possa continuar a produzir efeitos. Afinal de contas, o problema de Freud não foi enfatizar em demasia o sexo. Determinante como é, o problema de Freud foi não ter enfatizado o sexo o suficiente.

 

publicado por Filipe Faria às 00:27

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