O REPLICADOR

Julho 28 2009

Queria estar em contacto com a natureza. Não sei explicar porquê. Achei que a forma mais simples de o fazer seria passar uma tarde a ler nos jardins da Gulbenkian. Contudo, para grande surpresa minha, outros seres humanos também lá estavam com o mesmo intuito de se relacionarem com os outros elementos da biosfera, apenas não da mesma forma que eu, como irá tornar-se evidente...

Estes seres humanos que me rodeavam estavam numa fase precoce de maturação: tinham à volta de 5/6 anos. Estavam em grande número. Desta forma, o grupo devia ter mais de quinze elementos imberbes.

A sua forma de se relacionar com a natureza envolvente era bastante simples: as crianças tinham paus na mão e corriam freneticamente atrás dos pombos proferindo frases de guerra como: “mata-o, vais morrer, etc...”. Elas corriam para cima e para baixo com o objectivo de, pelo menos, conseguirem bater no pombo que fosse menos lesto na fuga.

É neste contexto de selvajaria ecológica que constato que uma das crianças (uma rapariga) andava atrás dos outros com uma cartilha dos direitos universais (ainda pensei se ela estaria a trabalhar para a ONU) a gritar: “vocês não podem fazer isso senão eles morrem, parem com isso já!”.
Os outros ignoraram-na durante grande parte do tempo e continuaram alegremente a tentar atingir os pombos com os seus paus. Porém, a dada altura, uma das crianças, um rapaz, já farto de a ouvir gritar os inconvenientes moralistas, deixou por momentos os pombos e foi atrás dela com o pau que tinha na mão, com o intuito de fazer à rapariga o que ele queria fazer aos pombos. Felizmente, a rapariga do discurso pró-biodiversidade era rápida a fugir e conseguiu chegar à assistente de educação que tomava conta do grupo antes que o jovem que a perseguia lhe conseguisse bater.

O grupo continuou a perseguir os pombos e eu mudei-me para outro sítio para poder ler. Mais tarde concluí que o livro que li tinha menos informação relevante do que este episódio...

 

 

publicado por Filipe Faria às 20:00

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