O REPLICADOR

Abril 16 2011

Antes de prosseguir leia o texto anterior a este e a resposta no insurgente.

 

Aparentemente o meu texto fez sucesso… não da melhor maneira. Esperava um dia ser citado no insurgente mas não por ter uma opinião contrária da que os seus autores partilham. É tão pouco “fashion” ser do contra. Especialmente quando a página do facebook do “compro o que é nosso” já tem quase 80000 seguidores, é praticamente o mesmo que andar na rua a praticar auto-mutilação.

 

Adiante, a autora Elisabete Joaquim do Insurgente não concordou comigo quando disse que compra nacionalista equivale a proteccionismo. Apresenta uns quantos argumentos, o principal sendo o que o meu texto dá a parecer que os consumidores são estúpidos. Esta é supostamente uma crença anti-liberal. Permitam-me que discorde da minha opinião de que os consumidores são estúpidos. Os consumidores são iludíveis, utilizando os vários subterfúgios que têm vindo a ser expostos à sociedade, notoriamente a propaganda. Não é por nada que os regimes totalitários têm sempre uma óptima máquina de marketing, a melhor algema do indivíduo é a sua própria ideia de que está a fazer o que é correcto. Claro que, sendo o consumidor racional dentro de certos limites (destaco a influência do acesso à informação e a própria emoção), eventualmente uma campanha de compra de produtos não competitivos arrastam-no para uma notória descida na qualidade de vida e como consequência a festa do proteccionismo acaba. O liberalismo clássico sonhava com a evolução do homem para um patamar cada vez maior da racionalidade. No entanto os povos em todo o mundo continuam a consumir produtos como socialismo, keynesianismo e até comunismo.

 

(já agora convém também lembrar que o proteccionismo é um “binge” e quando se acaba há uma quebra acentuada motivada pela reorganização económica dos recursos e empreendimentos, também chamada de crise dos sectores)

 

Outra grande distinção que a autora fez entre proteccionismo e escolha livre de produtos não competitivos é a ausência de coerção estatal na última. É um ponto válido se pensarmos em proteccionismo como uma definição estrita no dicionário e não numa síndrome, caracterizada por modulação dos hábitos dos consumidores para consistentemente comprarem produtos não competitivos. E a competitividade estrangeiro-português é um caso flagrante, a não ser que haja uma flat-rate em que se paga o mesmo ao mandar vir uma panela de pressão da Alemanha ou do Porto, ou seja, ainda com custos de transporte não negligenciáveis, trazer um produto de longe ainda sai mais barato que ir buscá-lo à quinta do vizinho.

Portanto se chamamos a proteccionismo o caso em que o estado protege o comércio nacional por meio de tarifas e outros artifícios do mercado, a campanha fica de fora. Mas se, razoavelmente, estendermos essa definição a todos os casos em que o consumidor vai adquirir produtos não competitivos no âmbito de proteger o mercado nacional, já não se põe o problema.

 

A autora defende a campanha como uma opção a ser utilizada quando é possível e não sempre. Eu fui buscar então ao facebook da campanha esta citação:

“ESTE EVENTO/CAMPANHA FUNCIONA COMO UM COMPROMISSO.

Vamos optar por produtos portugueses sempre que pudermos, mesmo que isso implique pagar mais uns centimos.”

(Não, não fui eu que meti a primeira frase em maiúsculas)

Portanto sempre que pudermos devemos comprar um produto português, independentemente da sua qualidade ou do seu preço e não, como a autora sugere “prevê-se que se escolham produtos portugueses mas apenas enquanto forem competitivos”. Ressalva-se claro os casos em que possamos ir para o mar alto e necessitemos de produtos de segurança de boa qualidade, porque nesse caso não podemos optar por um produto português já que mortos não podemos continuar a comprar outros produtos 560.

 

Proponho-me a contestar o excerto “O Made in Portugal passa então a ser uma marca como qualquer outra, inocuamente sujeita à preferência dos consumidores, como sucede com qualquer outra marca que incorpora por definição a sua imagem no custo do produto: escolhida enquanto tal se apresentar como racional para o consumidor”, talvez a frase que merecerá mais destaque por ser possivelmente a mais complicada de compreender, compreender o que significa uma imagem de marca.

O que motiva uma pessoa a utilizar um produto de determinada marca? Pode ser simplesmente uma questão de moda, que leva o consumidor a comprar a camisola da nike ou da adidas mas existe outro aspecto muito mais importante a considerar: as marcas funcionam hoje em dia como certificados de qualidade e fiabilidade, simplificando a vida ao indivíduo que quer um produto bom, que não se importa de pagar mais por não reduzir o gap de informação entre ele e o produtor. Do lado do produtor, este compromete-se a colocar a sua marca apenas em produtos de qualidade ou a perder os seus clientes. Ainda há uns dias a minha tia perguntou a um técnico que televisão deveria comprar e este respondeu-lhe por uma mão cheia de marcas, que na sua opinião são selos que garantem qualidade. E isso escapa na campanha do “compro o que é nosso”, salta-se o passo em que o produto tem que ter qualidade que justifique o preço para passar àquele em que as pessoas compram cegamente, neste caso acreditando que estão a ajudar a economia portuguesa.

Mas a economia portuguesa também é a economia dos portugueses e como eu já tinha referido, distorcer a alocação correcta dos recursos resulta numa descida no nível global de produtividade e isso afecta os portugueses. Do mesmo modo os produtores estrangeiros não poderão consumir produtos estrangeiros para eles (como os nossos) sem ser na troca do nosso consumo do deles. Nunca se chega a processar o reinvestimento dos lucros, no caso nacional eles são baixíssimos a ausentes e mal geridos e no caso estrangeiro cessam de existir em vez de poderem ser cá aplicados.

 

Finalmente é preciso lembrar o que estas campanhas de consumo nacional escondem, um assunto já desenvolvido por muitos liberais. O Homem não pode pensar na economia do seu país como um sistema fechado, hoje em dia todas as economias (desde já um erro dizer isto) estão interligadas. Um produto nunca tem só uma proveniência, é fruto de capital disponibilizado das mais variadas partes do mundo (e mesmo que o bem final tenha sido montado por um português terá sido usado um chip americano e um robot de fabrico chinês por exemplo) e a disrupção da normalidade do sistema tem consequências para todos. Mas a ideia de que o desenvolvimento dos portugueses está em contradição com o dos europeus e dos outros continentes é um passo em frente na mentalidade nacionalista. Repetindo,

 

Se a campanha acredita que manter o dinheiro em Portugal aumenta a capacidade do país, então claramente terá que admitir que nessa teoria “zero-sum” reduz a dos outros, algo que os seus proponentes têm que estar dispostos a aceitar. Assim se forma uma mentalidade contra a interacção económica entre os povos (que é obviamente anti-liberal) com todas as consequências a que isso conduz.

 

Não será necessário relembrar o episódio que ocorreu há uns tempos (será 2 anos atrás?) em que o nosso PR incitou os portugueses a passar férias em Portugal. E se todos os lideres de estado fizessem o mesmo? E se em todos os países se incitasse a compra de produtos nacionais? A autora defende que isso não aconteceria graças à racionalidade do consumidor. Eu também acho que não.

 

Mas nesta plataforma estamos a discutir as ideias, tal como eu referi logo no início do meu texto anterior, todos devem ser livres de comprar seja o que for. Tal como Elisabete Joaquim vende o seu produto, também eu vendo o meu, o esclarecimento que é a única forma verdadeira de levar os nossos ideais a novos destinos sem nos cobrirmos com a sujidade que é tão característica dos partidos políticos.

publicado por João Rodrigo às 19:02

yep.
AntónioCostaAmaral (AA) a 16 de Abril de 2011 às 19:39

Talvez me saiba dizer se é normal os comentários postados no insurgente não aparecerem nos computadores de toda a gente?

De
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