Ler SFF a versão completa de uma das melhores crónicas que li de Pedro Marques Lopes.
"Não há nada de mais patético do que ouvir figuras relevantes da nossa comunidade a verberar contra um imaginário neoliberalismo que, segundo eles, teria destruído a economia e atirado o mundo ocidental para a mais vil desgraça. Um dos exemplos em voga é a Irlanda. Quem os ouça falar, poderá ser levado a pensar que a população deste país está, neste momento, na mais profunda miséria. Afinal, nós, portugueses, temos muita sorte em não termos sido alvo das políticas que estes desgraçadinhos foram obrigados a suportar. Esquecem-se de referir, por exemplo, que em 2008 o PIB per capita irlandês foi, aproximadamente, o dobro do português e que não é, muito longe disso, provável que a situação se inverta ou sequer que nos aproximemos dos "desafortunados" irlandeses. Para que fique absolutamente claro: os irlandeses tinham um nível de vida alto e agora vão so-frer um decréscimo nos seus rendimentos: os impostos vão su- bir, no funcionalismo público alguns salários vão descer e alguns subsídios vão ser reduzidos. Os portugueses tinham um nível de vida baixo - face aos irlandeses - e vão ter ainda pior. Resultado: os portugueses vão continuar a viver - e por muitos anos - muito pior que os irlandeses. Mas entende-se a preocupação com os nossos irmãos da Irlanda. Coitados, vão ter de aprender a viver um bocadinho pior. Nós não temos esse problema: como já vivíamos mal, já estamos habituados. Deve ser por isso que se desprezam os factos e se mente de forma deliberada. Vale tudo para pôr em causa um modelo de desenvolvimento assente numa fortíssima aposta na educação, na livre iniciativa, baixos impostos, limitado intervencionismo estatal e flexibilidade laboral, que fez com que os irlandeses atingissem um padrão de vida único na sua história."