O REPLICADOR

Setembro 29 2009

No dia 27 de Setembro de 2009, duas eleições legislativas decorreram sensivelmente ao mesmo tempo. Torna-se assim importante comparar os resultados obtidos, mas mais importante ainda para a política nacional é comparar a composição partidária dos dois países em causa: Portugal e Alemanha.

 

Sem surpreender, na Alemanha a direita ganhou. Em Portugal a esquerda ganhou (nada de anormal nesta sucursal socialista banhada pelo atlântico). Na Alemanha, os conservadores democratas-cristãos (CDU) vão constituir governo com o partido liberal (FDP), numa coligação que permitirá produzir reformas em prol de uma economia mais liberal. Em Portugal continuamos a votar no investimento público, no endividamento do país, na estatização e nos impostos sanguinários, não só para esta geração mas também para as vindouras (sem “opt out”). Na Alemanha, há um verdadeiro partido conservador (CDU) que gosta da liberdade económica, que não perde a possibilidade de se coligar com os liberais (FDP) e que não se coíbe de mandar “à fava” os sociais democratas que estiveram com eles no último governo. Em Portugal, o único partido conservador/democrata-cristão que temos (CDS/PP) não tem mais de 10% dos votos (e já foi uma festa por os conseguir). De resto, no poder, tem dois partidos de matriz social democrata: o PS e o PSD. A pluralidade ideológica alemã tem o seu contraponto no cartelismo social-democrata português. Torna-se então pertinente perguntar: onde está a representação governamental do pensamento conservador e liberal em Portugal?

 

Não é preciso dizer que em terras lusitanas não há um partido liberal clássico e que devia haver. Mas pior do que não haver um partido liberal clássico é não existir sequer, como partido de poder, um partido conservador que, tal como manda o conservadorismo burkeano, defenda a sociedade contra o estado, o mercado contra a prepotência estatal, proteja a propriedade privada em toda a sua extensão assim como a manutenção do direito natural, e que considere que a defesa da tradição não passa apenas por ser pró-família ou anti-aborto mas que também passa por defender a ordem natural da sociedade. Regra geral, todos os países europeus têm o seu partido conservador que é a alternativa de poder, mas Portugal não tem. O ónus deste fenómeno tem um nome: Partido Social Democrata.

 

O PSD é o principal responsável pela ausência de real representação de direita em Portugal. Em larga medida, é um objecto parasitário que aceitou de bom grado um sistema político delineado pelo PS no pós 25 de Abril. O PSD aceita que a voz popular diga que é um partido de direita apesar de ser um partido Social Democrata (tal como indica o nome), sabendo-se que a social democracia é representada à esquerda em qualquer país europeu. Já se sabe que Sá Carneiro falava em instaurar o Socialismo Democrático, mas não precisamos de ir tão longe: há alguns dias, o próprio Marques Mendes disse que o PSD não é um partido de direita mas sim de centro (porque não pode dizer esquerda, sabendo-se que esse espaço está já ocupado). Mesmo a chamada ala mais conservadora do partido encabeçada por Manuela Ferreira Leite é apenas conservadora nos valores sociais, porque na economia é social democrata, ou seja, de esquerda. E para os que dizem que ser conservador nos valores sociais basta para se ser de direita, então podem votar no PS ou no MEP, porque o que não falta por lá são elementos da esquerda católica conservadora. Esses elementos, por si só, não colocam ninguém na direita. Acredito ainda que se Portugal tivesse um partido liberal como têm os alemães, o PSD teria mais afinidades (e faria mais coligações) com o PS do que com um partido liberal, porque, e como já demonstrou ao longo dos anos, o PSD não tem uma genética que enfatize a liberdade económica.

 

Actualmente, porque os eleitores se querem sentir representados no governo, o PSD capta a maioria dos votos de direita sem ser de direita, deitando por terra qualquer possibilidade de combater a hegemonia portuguesa de esquerda, não só no âmbito partidário mas também no âmbito ideológico. Tal como o André Azevedo Alves deixou escrito, o que o enfraquecimento do PSD pode trazer de bom é a sua implosão. Só assim poderá existir um reordenamento à direita de forma a que esta possa existir com um discurso claro, abrindo alas para uma verdadeira representação institucional liberal e conservadora.

 

O PSD foi o grande derrotado das eleições de 27 de Setembro porque não é verdadeira alternativa. É apenas a cópia do PS com uma maquilhagem diferente. Apesar de tudo, as pessoas sabem reconhecer o original, e preferem-no.

 

 

 

 

publicado por Filipe Faria às 22:14

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