O REPLICADOR

Julho 29 2009

O estudo do académico Ricardo Reis vem revelar o que todos já sabiam: que não há diferença substancial entre PSD e PS no que diz respeito à efectivação de políticas. Mas o estudo revela algo ainda mais curioso: o PSD, quando está no governo, faz com que o estado cresça 0.35% ao ano, enquanto que o PS o faz crescer a 0.25% ao ano. Quem gastou mais ou quem gastou menos parece-me irrelevante, o que me parece de extrema importância é o facto de que a tendência vigente é de aumentar o peso do estado (e consequente consumo da riqueza nacional produzida), seja qual for o partido do arco de governação que esteja no poder. Para onde caminhamos? Para um estado que consome 100% da riqueza produzida pelos cidadão? Para uma economia absolutamente planificada ao estilo neo-comunista? Estas perguntas podem parecer exageradas, mas se perguntarem a 21% da população portuguesa que vota na extrema esquerda, talvez não o sejam de todo.

Alguns ainda ficam surpreendidos por o partido que supostamente é de direita (o Partido Social Democrata) não ter uma atitude minimamente liberal em relação à forma como lida com a política. O partido principal dito de direita teria necessariamente de se destacar do partido de esquerda através da defesa de um estado tendencialmente mais pequeno que delegaria responsabilidades para a sociedade civil. Isso não acontece, o PSD aumenta o estado tanto ou mais que o PS (como revela este estudo). Mas porque é que isto ainda surpreende? Não há razões para tal.

Primeiramente, nenhum partido europeu que se auto-denomina Social Democrata é de direita. Todos os partidos sociais democratas europeus são partidos de centro esquerda. A social democracia é, por definição, uma ideologia de esquerda. No resto da Europa a direita é representada por conservadores, democratas cristãos ou até liberais, mas nunca por sociais democratas. Portugal apresenta este contra-senso ideológico de ter 2 partidos de centro esquerda a disputar o poder político.

Em segundo lugar, Sá Carneiro, o próprio ícone da direita portuguesa que está na origem do que é hoje o PSD, proferiu publicamente que estava na política partidária para instaurar em Portugal o “socialismo democrático.” Ora, para instaurar o socialismo democrático em Portugal já temos o Partido Socialista, não precisamos de outro partido para fazer o mesmo. Do que realmente precisamos é de um verdadeiro partido de direita que defenda as liberdades da sociedade civil contra o aumento do peso do estado. Infelizmente,  não é isto que temos.

O PSD, apesar de alguns chavões um pouco mais liberais no seu discurso, joga com as mesmas armas argumentativas do PS. Não se coíbe de usar o argumento da redistribuição da riqueza tanto como o PS; usa a presença Estado como solução para praticamente tudo; aumenta o peso do estado ainda mais que o PS; aumenta impostos tanto ou mais que o PS; usa o multiplicador keynesiano dos gastos públicos tanto ou mais que o PS. Em suma, nunca é demais repetir o óbvio: Portugal precisa de uma verdadeira direita liberal, ou, se não for pedir muito, pelo menos que seja tendencialmente liberal, para que o duelo político faça sentido e os checks and balances se possam efectivar como uma realidade democrática.

Para consumir uma refeição, o senso comum ocidental diz que precisamos de uma faca e de um garfo. Portugal anda há muito tempo a tentar alimentar-se com duas facas (PS e PSD) que, obviamente, cumprem a mesma função: cortam, cortam, mas não conseguem levar a comida à boca, e ,quando o tentam fazer, cortam a língua com o objecto lacerante. Está então na altura de a direita portuguesa se tornar num garfo. A direita precisa de ser, não uma faca, mas um sim um indispensável garfo.

 

 


 

publicado por Filipe Faria às 17:18

Parece de facto evidente, no entanto as teimosias permanecem.

Gostei do blogue, que não conhecia, hei de passar mais vezes.
Elisabete Joaquim a 10 de Agosto de 2009 às 14:28

Bem vinda. Estou, da mesma forma, a seguir atentamente o blog "Novo Rumo", que me parece uma excelente iniciativa.
Filipe Faria a 10 de Agosto de 2009 às 21:33

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